segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Hashtagzação da Opinião

Como a crítica acabou se tornando mais importante do que o seu próprio conteúdo





São novos tempos. Tempos em que, pra falar com aquele parente mais remoto, que vive experiências alternativas, vá lá, no Zimbábue, não se precisa de muita coisa além de uma conexão meia-boca ou um celular mequetrefe. 

É também o tempo do fast-food. Não são necessários mais do que 10 minutos pra comer aquele dogão que "enche bem". Além do mais, é barato e bem gostoso, principalmente se for feito sem todos os padrões da vigilância sanitária ocidental.

Esses tempos também são os tempos da zona azul. Não dá pra deixar os nossos Mercedes muito tempo parados na rua que já vem o guardinha multar.

Falando em zona, outra que tem chamado muita atenção é a zona da crítica, a internet. Não é bem verdade que a zona da crítica seja uma invenção dela, mas que a sua popularização foi responsável por reinventá-la, não há dúvidas.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu chamou esse tempo de geração do fast-thinkin'. Quer dizer, esses também são tempos de ideias rápidas, chamativas, claras, "ilustradas" por imagens e, claro, críticas. Com a adoção da imagem, aliás, a crítica tornou-se tão poderosa a ponto de adquirir status de verdade documentária. Basta uma associação entre o que se vê e o que se acha que, pronto, eis uma capa de jornal das mais vendidas.

Por incrível que pareça, o fast-thinkin' é um fenômeno anterior à internet. Descende dos anos 80 e, principalmente, 90 do século passado, uma verdadeira revolução na maneira dos grandes jornais se comunicarem com o público. Com a popularização da TV, não restou outra alternativa aos impressos senão adotar o apelo à imagem como estratégia de contenção de leitores-desertores. E funcionou.

No Brasil, o primeiro grande espaço virtual de discussão foi o Orkut. Até então, todos os fóruns apresentavam caráter específico, e eram anexos de sites específicos. A sacada do Orkut foi permitir a criação de fóruns distintos dentro de uma mesma ferramenta de comunicação. Desta forma, era possível ter um perfil pessoal com álbuns de fotos, preferências - como livros, sabonetes e religião - e as tais "comunidades". Comunidades eram fóruns com administração própria, regras (normalmente apresentadas na descrição da página), mediadores e integrantes, que em alguns casos deveriam ainda solicitar a entrada (em alguns casos, a espera poderia demorar meses, como em comunidades de times de futebol).

O mais interessante é que as comunidades cresceram de tal forma que tornaram-se estruturas burocráticas complexas. Na comunidade "oficial" do Palmeiras, por exemplo, os administradores tinham perfil próprio para gerenciar o grupo, e as eleições - meio espartanas - para o cargo eram acompanhadas com afinco pelos usuários. Normalmente a tarefa de mediar a página era aceita com glórias pelos membros, que já adotavam postura diferente nas publicações, apagando pequenos incêndios, ameaçando outros membros com suspensão, expulsão e por aí vai. Uma vez fui suspenso de lá porque xinguei um cara que estava cornetando o ex-goleiro Sérgio. Com propostas reformistas, muitos dissidentes mais exaltados fundavam novas comunidades.

Mais do que exibir um conjunto de vínculos de identidades (afinal, era possível ser signatário de, por exemplo, "Anarquismo", "Grêmio", "Eu Sou Uma Joia Rara", "Tainá - O Filme"), as comunidades também serviam como zonas acaloradas de crítica, sejam quais fossem os assuntos veiculados. Inclusive porque eram permitidos assuntos alheios ao tema central do fórum, através dos chamados "OFF Topics", que também tinham suas regras específicas.

Como não havia o botão "curtir", o jeito de se mostrar participante do assunto, sem colaborar, mas atuante, era através do recurso da repetição personalizada. Por exemplo, se a primeira postagem do tópico "[OFF] - Parada Gay em São Paulo reúne milhares de participantes" dissesse "O JEITO É BOTAR FOGO NESSES VIADO TUDO", a postagem do próximo usuário poderia vir acompanhada de "O JEITO É BOTAR FOGO NESSES VIADO TUDO[2]" ou, ainda, com comentários anexos: "O JEITO É BOTAR FOGO NESSES VIADO TUDO kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk".

Ser colunista de jornal não é algo que todo mundo vai ser um dia. Neste sentido, o grande mérito das redes sociais foi o de dar volume a personalidades anônimas. Daí o poder de uma ferramenta democrática de amplificação dela, a opinião.

Nos tempos do fast-thinkin', dar a opinião acabou se tornando mais importante do que a opinião em si. Basta que um assunto apareça nas redes, e o tempo parece um contador de bomba-relógio para aqueles que precisam se manifestar, de qualquer jeito, a respeito de um assunto veiculado.

Como, ao contrário da opinião, o empirismo não está na moda, o ato de fazer a crítica inscreve o sujeito anônimo num seleto grupo de pessoas conscientes, rapidamente identificadas pelo posicionamento definido. Mas, afinal, conscientes do que?



Quando em junho o Brasil pipocava em manifestações, que ocuparam as ruas de grandes ou pequenos centros urbanos, as redes sociais foram inundadas por uma consciência que, acima de tudo, significou status. O slogan, acompanhado de hasthtag, #VemPraRua, foi parar em anúncio da Fiat e Bárbara Paz fez um ensaio sensual como black block. Fotografias de olhos roxos maquiados eram postadas com efeitos do Instagram: amaro, mayfair, rise, hudson, valencia, x-proII, sierra, willow, lo-fi, earlybird, sutro, toaster, brannan, inkwell, walden, hefe, nashville, 1977 ou kelvin. Só escolher.

Com o pedido de prisão dos envolvidos no caso do Mensalão, uma montagem de Giulliano Esperança (?), que fazia associação entre Hitler, Genoíno e Dirceu, foi compartilhada 36 mil vezes. Enquanto isso, pesquisa do Datafolha diz que 81% dos paulistanos assumem publicamente que são "mais ou menos informados", "mal informados" ou "totalmente desinformados" sobre o assunto. Ainda assim, 79% querem a prisão imediata dos condenados.

Ao ver o gesto do Genuíno e do José Dirceu, fiquei incomodado, senti um sensação muito ruim, me veio imediatamente a imagem do Hitler. Fiz uma breve pesquisa e logo achei Hitler fazendo este gesto em uma aparição pública. O mal que esse governo fez e faz ao povo brasileiro, não é nada diferente do que foi feito por Hitler. Vivemos em um campo de concentração petista, aliás a pronúncia muito parecida com nazista, assim como outras coincidências. Estamos aprisionados pela violência, iniciada pelo desrespeito praticado por toda essa cambada de corruptos. Vivemos sobre escassez, sem atendimento na saúde, sistema educacional falido, projetos culturais ridículos, estrutura fiscal medonha, segurança ZERO e infelizmente tem muito mais. Eu dúvido que essas prisões vão mudar alguma coisa. Espero estar enganado.
Ao ver o gesto do Genuíno e do José Dirceu, fiquei incomodado, senti um sensação muito ruim, me veio imediatamente a imagem do Hitler. Fiz uma breve pesquisa e logo achei Hitler fazendo este gesto em uma aparição pública. O mal que esse governo fez e faz ao povo brasileiro, não é nada diferente do que foi feito por Hitler.
Vivemos em um campo de concentração petista, aliás a pronúncia muito parecida com nazista, assim como outras coincidências. Estamos aprisionados pela violência, iniciada pelo desrespeito praticado por toda essa cambada de corruptos. Vivemos sobre escassez, sem atendimento na saúde, sistema educacional falido, projetos culturais ridículos, estrutura fiscal medonha, segurança ZERO e infelizmente tem muito mais. Eu dúvido que essas prisões vão mudar alguma coisa. Espero estar enganado.

Atualmente, a vedete da vez é a doença de Genoíno. Postagens exigem "justiça social" com o tratamento do deputado no SUS, com imagens degradantes de pacientes em hospitais públicos de algum lugar - talvez nem do Brasil.

Ao mesmo tempo em que esvaziam fóruns e debates sobre as questões das minorias, ~os conscientes~ ocupam as redes com postagens que condenam o feriado da Consciência Negra poucas semanas depois da santificação do Dia de Finados. Aliás, na zona da crítica falar com Deus também é permitido. O Facebook dEle deve estar forrado de atualizações, daqueles que amam e daqueles que odeiam. 

PS: Conheça o melhor Tumblr
de todos os tempos, o Chicas Xavier

Com a glamourização da vida cotidiana e privada, as redes esticaram Narciso e encurtaram Atena. Nisso de superproduzir a voz, o seu conteúdo foi completamente esvaziado.

Nesta mesma onda, a rede social Ask veio, aparentemente, para ficar. Através da ferramenta, é possível responder perguntas cotidianas ou polêmicas, como por exemplo "CARA O QUE VOSE ACHA DA DITADURA MILITAR NO BRASIL"; "Pq vc e a Samanta terminaram ? ://"; "minina vc è uma corna o jerfeson te trai com todo mundo kkkkkk"; ou mesmo mensagens de incentivo, como "Não dê bola pra esses otários, são pessoas invejosas que não acrescentam em nada. Não ligue pra opinião dos outros e continue sendo essa pessoa que é XD".  

Na zona da crítica, a opinião tornou-se um ingresso de entrada. Pra uns, na consciência. Pra outros, na piada.



Abraços,
Murilo