sexta-feira, 4 de julho de 2014

Os Estados Unidos e sua hegemonia na Nova Ordem Mundial

por HIGOR BRIGOLA*

“Eles mantêm seus segredos encobertos, o rico não se preocupa com aqueles que sofrem. Esta não é a terra do leite e do mel, porque tudo que eles querem é dinheiro, dinheiro e dinheiro." 

The Exploited 




Hoje, o dia 4 de julho de 2014 marca o 238° aniversário da independência dos Estados Unidos da América, ocorrida no ano de 1776. Por esse motivo, dediquei este artigo a escrever um pouco sobre este país na Nova Ordem Mundial, período em que sua hegemonia global se consolidou, mas que atualmente vem sendo questionada. 

Para entendermos o que é uma Ordem Mundial, basta pensar no modelo em que estão estruturadas as relações de poder entre os países pelo status de hegemon mundial. 

A Guerra Fria (ou período bipolar), iniciada oficialmente em 1947 e derrocada em 1991, pode ser entendida como a Ordem Mundial antecessora da qual vivemos na atualidade. Dividindo o mundo em dois blocos ideológicos antagônicos, de um lado o hemisfério ocidental, liderado pelos Estados Unidos da América, defendia o capitalismo neoliberal, enquanto o hemisfério oriental, liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), defendia o ideal socialista. 

Em dezembro de 1991, a Guerra Fria chegaria ao seu fim com a dissolução do segundo bloco, após a implosão da URSS e inaugurando então a Nova Ordem Mundial. 

Com a maior economia do planeta e o poder militar inquestionável, os EUA se tornaram os “donos” do século XX, levando muitos analistas das relações internacionais a afirmarem o surgimento de uma nova era de unipolaridade (um país dominante) do sistema internacional. 

Mas a Nova Ordem Mundial, anunciada por George Bush “pai”, em 1991, durou pouco tempo, pois a ascensão econômica da Europa Ocidental e Japão, e mais recentemente da China, fez estes analistas mudarem de opinião e afirmarem então uma ordem multipolar (vários potenciais aspirantes ao domínio global) econômica, ainda que destacada a superioridade militar norte-americana. É nesse contexto de preservação da ordem militar unipolar e do máximo de expressão possível na ordem econômica multipolar, que os Estados Unidos procuram deter o avanço e se precaver contra países e alianças que venham a desafiar seus interesses. 

A campanha estadunidense no Oriente Médio em busca de petróleo pode ser utilizada como um exemplo. Após os ataques as torres gêmeas em setembro de 2001, por supostos integrantes da Al Qaeda, o terrorismo internacional ganhou destaque em todos os jornais ocidentais, e como o interesse nacional norte-americano acaba sendo constituído como o interesse da comunidade internacional, a questão do terrorismo emergiria como componente da segurança de todo o ocidente, tocando no fator cultural como a pólvora do conflito. Nesta perspectiva “coincidentemente” era o que Bush precisava para ganhar a opinião pública e legitimar seus ataques aos países do Oriente Médio (Afeganistão em 2001 e Iraque em 2003), em nome da sua “luta” contra o terrorismo, e disfarçadamente garantir o controle das jazidas de petróleo. 

Os 2.995 mortos no atentado deixaram a população assustada, criando um clima de medo no país. A intolerância contra os árabes aumentou enormemente, como ficou evidente em ataques as mesquitas nos EUA. A administração republicana de George W Bush aproveitou-se da situação, em um plano que outrora havia sido execrado encontrava terreno fértil para germinar (GOMES, 2007, p.50). 

Para os EUA, a garantia do petróleo dos países árabes possuía uma dupla importância, pois além do suprimento nacional, apresenta-se ainda como um mecanismo de controle indireto ao suprimento dos principais polos desafiantes, ou seja, China, União Europeia e Japão (PAUTASSO E OLIVEIRA, 2008). 



Ainda com o discurso de combate ao terrorismo, os EUA não deixaram de investir no complexo militar-industrial, pois a continuidade dos gigantescos investimentos governamentais nas indústrias bélicas do país, com a venda de armamentos no mercado interno e externo, constituem grande parte da riqueza estadunidense. Nestes complexos, a dimensão política anda ao lado da economia, uma vez que representam uma condicionante estrutural do intervencionismo militar dos EUA pelo menos nos últimos vinte anos, mesmo intercalando governos republicanos e democratas. 

Chomsky (1996) assegura que os inimigos são criados pelo próprio governo norte-americano para legitimar a continuidade dos gastos na indústria bélica, colocando medo em sua população e os fazendo pensar que necessitam de proteção. Esta estratégia é utilizada porque os Estados Unidos querem manter a dianteira na corrida contra as novas economias nacionais competidoras. 

Esta cultura paranoica retroalimenta os investimentos na indústria bélica: é preciso criar um inimigo que gere medo e caos no país. Na Segunda Guerra o inimigo odiado era o nazismo alemão, no período da Guerra Fria era o comunismo soviético, agora deslocaram essa “ameaça” para os países islâmicos. 

Estes são apenas alguns dos inúmeros exemplos que poderiam ser citados sobre as estratégias “macabras” dos EUA para se perpetuar no poder mundial, independente do partido político, independente se é Clinton, Bush ou Obama. 

Abraços, 
Higor Brigola. 

* Bacharel em geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); mestre em Gestão do Território pelo programa de pós-graduação em Geografia também pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, como bolsista da CAPES. Atua como professor de geografia e sociologia no Colégio Objetivo de Itararé e nos cursos de História e Pedagogia das Faculdades Integradas de Itararé; e membro da comissão avaliadora da Revista de Geopolítica. 

Referências 

CHOMSKY, N. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: UnB, 1996. 

GOMES, A. T. Doutrina Bush: uma análise de política externa. Relações Internacionais no Mundo Atual, ano 7, n. 7, p. 33-56, 2007. 

PAUTASSO, D.; OLIVEIRA, L. K. A segurança energética da China e as reações dos EUA. Revista Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 30, n. 2, mai./ago. 2008, p. 361-398. 

SATO, E.. A agenda internacional depois da guerra fria: novos temas e novas percepções. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 43, n. 1, p. 138-169, 2000.

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