quinta-feira, 21 de agosto de 2014

História de Itararé: da emancipação político-administrativa à década de 1930

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

Segundo o “Almanak do Estado de São Paulo” de 1895, em 1893, quando ainda fazia parte da Vila da Faxina (atual Itapeva), a Vila de São Pedro de Itararé tinha “10 mil almas, com 300 eleitores, 100 casas; há mais ou menos um milhão de pés de café; 50 e tantos engenhos de moer canna e em alguns delles fabrica-se aguardente superior; estes engenhos são movidos por animais, sendo um delles de cylindro; machinas de beneficiar café, movidas a vapor, por animais e água”. Continuando a descrição, o texto indica que a cidade  abrigava 6 ruas e 10 travessas. 

Além do plantio de café e cana-de-açúcar, a prestação de serviços era outra atividade fundamental na Vila. Dentre eles, estavam alfaiates, carpinteiros, funileiros, marceneiros, oleiros e pedreiros, além dos comerciantes dos armazéns de secos e molhados, da farmácia e de um hotel. Baseado nestes dados, o professor Péricles Fiuza representou a Vila de São Pedro de Itararé em 1893: 


Dentre os espaços de sociabilidade figuravam os saraus musicais e as missas. As festas religiosas eram outra forma de sociabilidade bastante comum. Destacavam-se a de Nossa Senhora da Conceição, a do Divino Espírito Santo e as festas juninas, principalmente a de São Pedro. 

O município de Itararé foi emancipado no dia 28 de agosto de 1893, por meio da lei 197 promulgada pelo Dr. Bernardino de Campos, presidente do Estado de São Paulo, desmembrando-se do território da Vila da Faxina, e passando a se chamar Vila de São Pedro de Itararé. Em 30 de novembro do mesmo ano foi instalada a Câmara Municipal, sendo eleito como presidente o Coronel Fructuoso Bueno Pimentel e como intendente (prefeito) Brotero de Almeida. 

As primeiras mudanças começaram a surgir na primeira década do século XX. Em 1901, a vila foi elevada à categoria de cidade pela Câmara Municipal passando a chamar-se Itararé, nome indígena que deriva do rio Itararé, que em tupi significa “pedra que o rio cavou”. Em 1902, a primeira obra pública, um mercado localizado onde hoje está o Paço Municipal, foi inaugurada. Em 1907, o intendente passou a ser chamado prefeito. Em 1909, realizou-se a abertura da ligação do trecho da Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande em Itararé. A inauguração teve a presença do presidente Afonso Pena.

A construção da estrada de ferro anunciava o período da chamada “Belle Époque” itarareense. Período de mudanças estruturais no município, acompanhadas de uma mentalidade higienista. Dentre as obras de melhoria no município, destaca-se a instalação da luz elétrica, em 1910, mesmo ano em que começou a circular o jornal “O Itararé”. Em 1911 foram concluídas as obras da Igreja Matriz. A partir de 1912 passou a funcionar o sistema de captação e distribuição de água. Dois anos depois, foi inaugurado o Grupo Escolar Tomé Teixeira, quando também foi inaugurado o Teatro de São Pedro, construído em estilo europeu que contava como biblioteca, salão de baile e de jogos, além de um pavilhão para exibições cinematográficas e teatrais. 


Desta forma, Itararé começou a ganhar “ares urbanos” que trouxeram consigo problemas sociais. Daniel Barreto destaca, a partir da análise da coluna “Notas e factos”, publicada no jornal “O Itararé”, a existência de problemas como a mendicância, a ausência de limpeza pública e de conservação das vias. Partindo de um imaginário higienista, uma das colunas, intitulada “o infeliz”, descrevia a presença de um “miserável” maltrapilho que vagava pelas ruas da cidade e indicava: “por isso apelamos para a autoridade, em nome da moral e em nome da humanidade; não haverá um meio de ser o desgraçado recolhido algum estabelecimento próprio ao seu estado? Hospicio, Asylo de Mendicidade ou o que quer que seja?” 

Em outro texto, Barreto analisa as correspondências trocadas entre chefe da polícia do estado de São Paulo, Pedro Antônio de Oliveira Ribeiro, e o delegado de Itararé, cujo nome não foi possível identificar. Nestas correspondências, são destacados problemas como o surgimento da criminalidade, a precariedade da cadeia municipal e as preocupações com a manutenção da ordem na cidade de Itararé. Na visão do historiador local, a análise das fontes permite afirmar que a “Belle Époque” itarareense não foi “tão bela assim”. 

Na primeira década do século XX, começaram a chegar os imigrantes europeus. Dentre eles, num primeiro momento, estão os italianos, que contribuíram para o desenvolvimento da economia e da cultura local. Além do algodão, o comércio e pequenas fábricas eram as atividades desempenhadas. O maestro José Melillo foi responsável pela organização da Banda Musical Lyra Itarareense. Também fundou o Cine Teatro Central na rua XV de Novembro (atual Caixa Econômica Federal), mais tarde transferido para a rua Newton Prado e rebatizado de Cine Teatro São José. Hércules Peppo Triballi reorganizou o antigo grupo de teatro, nomeado de “Os repentinos”. A partir dos anos 20 o grupo fez grande sucesso. 


Os austríacos chegaram em 1921 e passaram a se dedicar à plantação de amoreiras e ao cultivo do bicho da seda. Com isso, passaram a vender seda para Campinas, sendo muito bem sucedidos nesta atividade comercial. Os armênios e sírios se dedicaram ao comércio de tecidos, armarinhos, calçados e brinquedos. Os alemães trabalharam na lavoura, principalmente com a cana-de-açúcar produzindo água ardente. 

Além das contribuições para a economia e a cultura local, os imigrantes trouxeram consigo a religião protestante. Dentro deste contexto, destaca-se a fundação do Ginásio Rio Branco, com o curso Ginasial, Comercial, Complementar, Primário e a Linha de Tiro 269, em 1929. Porém, este teve breve duração, pois seu diretor, Prof. João Trentino Ziller, era protestante e devido a isto a maioria da população católica preferiu enviar seus filhos para estudar fora de Itararé, o que levou à “falência” do estabelecimento. No mesmo ano, foi inaugurado o Campo de Aviação. 

Em conclusão, podemos observar que após a emancipação político-administrativa, o município de Itararé passou por transformações econômicas, culturais e religiosas, próprias do processo de urbanização. Essas mudanças acarretaram problemas sociais como a pobreza e a criminalidade, que constituíam o cotidiano dos itarareenses nas primeiras décadas do século XX. 

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