quinta-feira, 7 de agosto de 2014

História de Itararé: do processo de colonização à criação do Distrito de Paz de São Pedro de Itararé

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

No próximo dia 28 de agosto, Itararé comemorará 121 anos de emancipação político-administrativa. Para celebrar, este mês publicarei uma série de três artigos com o objetivo de discutir a história do nosso município. Sem a pretensão de esgotar o tema, o objetivo será problematizar a história local com vistas à compreensão do processo de formação histórica. 

Na década de 30 do século XVI, quando efetivamente se iniciou o processo de colonização da América Portuguesa, o “Brasil” foi dividido em 15 capitanias-hereditárias. De acordo com Bóris Fausto, as capitanias eram “quinhões” de terras doadas pela Coroa portuguesa a um capitão-donatário que tinha a responsabilidade de cultivar, organizar a justiça no local, doar sesmarias e pagar tributos para Portugal. Os “Campos de São Pedro”, região onde está localizada Itararé, pertencia a Capitania de São Vicente, fundada em 1554 pelos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. A capitania era povoada pelos índios guaianases

Sobre os primeiros povoadores dos "Campos de São Pedro", o colono Gabriel Soares de Souza escreveu em 1587 no Tratado descritivo do Brasil: “não são os Goianazes maliciosos, nem refalsados, antes simples e bem acondicionados, e facílimos de crer em qualquer cousa. Não costuma esse gentio fazer guerra a seus contrários fora dos seus limites, nem os vão buscar nas suas vivendas, porque não sabem pelejar entre o matto, se não no canipo onde vivem”. Inimigos dos tamoios, os guaianases não construíam aldeias com casas arrumadas, mas “buracos” pelo campo fazendo as suas camas de ramos e peles de animais que matavam. Outros viajantes europeus, como o padre Simão de Vasconcellos, ajudaram a reforçar a imagem de ingenuidade dos guaianases classificando-os os como “índios mansos”. Esta perspectiva pode ser facilmente desconstruída se analisarmos eventos como a Confederação dos Tamoios (1554-1567), conflito envolvendo portugueses, franceses e indígenas que teve a participação dos guaianases. 


No século XVII, paulistas enriquecidos desenvolveram as chamadas bandeiras, expedições que reuniam indígenas, mamelucos e brancos em busca de outros indígenas para escravizar e metais preciosos. Tais expedições cortaram o interior nas direções de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. As bandeiras recebiam incentivos da Coroa portuguesa que tinha, desde os primórdios da colonização, o objetivo de encontrar ouro na colônia, porém algumas foram patrocinadas pelos próprios paulistas. Nestas expedições os bandeirantes exploraram os "Campos de São Pedro", sendo responsáveis pela abertura do primeiro traçado da Estrada Geral. A abertura deste caminho possibilitou a chegada de jesuítas, exploradores e dos tropeiros, personagens importantes na origem do município de Itararé. 

Em 1725, o povoamento da região dos "Campos de São Pedro" teve início com a doação de 03 sesmarias, situadas entre o Rio Verde e o Rio Itararé. A primeira foi outorgada em 30 de abril de 1725, a Luiz Pedroso de Barros, morador de Santana do Parnaíba; a segunda também foi concedida a ele em 9 de dezembro do mesmo ano. Já a terceira foi outorgada a Maria de Almeida Leite, moradora da vila de Sorocaba, em 1784, tendo ela delegado poderes a três moradores da vila de Faxina (atual Itapeva). Em 1776, os “Campos de São Pedro” foram pela primeira vez referidos no documento oficial "História dos costumes de São Paulo", no qual se fala das "Fazendas de São Pedro e Morungava". As duas primeiras sesmarias foram compradas por Maria de Almeida Leite, e depois, todas foram vendidas para o Coronel Gavião, entre 1784 e 1792, dando início ao processo de concentração de propriedades e riquezas na região. 

Apesar da pouca documentação e da “invisibilidade” dos escravos nas obras sobre a história de Itararé, indícios materiais e memórias evidenciam que nas “Fazendas de São Pedro e Morungava” era utilizada a mão-de-obra escrava. O último proprietário a utilizar a mão-de-obra escrava foi o coronel Jordão do Canto e Silva. Além disso, memórias como as relacionadas à escrava Olímpia Novaes Taques, que nasceu em Itararé no século XIX, indicam a presença dos escravos na região dos “Campos de São Pedro”. 

Percorrendo os caminhos das tropas, vieram os tropeiros trazendo do sul animais para as feiras anuais de Sorocaba. A palavra tropeiro deriva de tropa, ou seja, o conjunto de homens que transportavam animais e mercadorias. Em fins do século XVIII e início do XIX, a feira de animais de Sorocaba, ponto de convergência entre os compradores oriundos de todos os pontos do Brasil, aumentou, tornando-se comércio dos mais prósperos da época. Os animais vinham de Viamão no Rio Grande do Sul até a feira de Sorocaba. No caminho, um dos pontos de parada era a região de Itararé. Com o passar dos anos os tropeiros passaram a se fixar nos arredores do Rio Itararé em choupanas, pequenas casas de madeira, dando origem ao que viria a ser a vila de Itararé. Em 1776, no já referido documento “História dos costumes de São Paulo” a região foi retratada como local de pouso dos tropeiros. 


Em 1808, a chegada da família real portuguesa ao Brasil alterou o cotidiano da colônia. Neste contexto, Dom João ordenou a vinda da Missão Artística Francesa para o Brasil em 1816. Artistas e cientistas convidados vieram para o Brasil com o intuito de desenvolver as ciências e as artes. Dentre eles, o naturalista Auguste de Saint-Hilaire e o pintor Jean Baptiste Debret. Ambos passaram pela região de Itararé na década de 1820. Saint-Hilaire levou espécies de plantas nativas para os seus estudos. Debret marcou a sua passagem pintando a aquarela "Ponte sobre o Rio Itararé" em 1827, que retrata a dificuldade de passagem dos animais por sobre a ponte. 


Porém, segundo os principais estudiosos da história da região, a construção da capela de "Nossa Senhora da Conceição de Itararé", em 1880, foi a "pedra de origem" da Vila de Itararé. Isso porque, após sua construção, os habitantes começaram a construir casas, e famílias passaram a viver ao redor da capela. Em decorrência disso, pela Lei nº 36, de 10 de março de 1885, criou-se a “Freguesia da Capela de Nossa Senhora da Conceição”. Com a Proclamação da República em 1889, as freguesias passaram a distritos de paz com a eleição de juízes e vereadores, fato que ocorreu em 1891, concedendo à freguesia o status de “Distrito de Paz de São Pedro de Itararé”. Apenas dois anos separaram este episódio da emancipação político-administrativa. No entanto, este será o tema do próximo artigo. 

Abraços, 
Osvaldo. 

4 comentários:

  1. caro autor, seu texto está bom, mas infelizmente ficou devendo nas fontes. Você poderia ter colocado a fonte das imagens não !! Fiquei muito interessado, mas pra gente elas perdem o valor científico num aspecto de pesquisa séria ! Obrigado

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  2. Osvaldo Rodrigues Junior16 de dezembro de 2014 às 08:23

    Caro leitor,
    Seguem as fontes das imagens:

    IMAGEM 1 - Índios guaianases do século XVII (gravura da época).

    IMAGEM 2 - As Rotas dos Tropeiros. Autor desconhecido.

    IMAGEM 3 - Aquarela - Ponte sobre o Rio Itararé. Jean Baptiste Debret.

    Att,
    Osvaldo Rodrigues Junior.

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  3. Sou morador de Guianases e fiquei muito feliz em aprender através do seu trabalho um pouquinho da nossa história!!
    muito obrigado e forte abraço!

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