sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Gayzismo ou saúde pública?

Discussão sobre a sexualidade na era pós-moderna 

por LUCAS SANTOS*


É imprescindível, para uma discussão que envolva sexualidade na atualidade, a compreensão de alguns conceitos básicos ligados à própria sexualidade e ao gênero. 

Em primeiro lugar, devemos compreender o que é a dita identidade de gênero. Esta se trata basicamente de como a pessoa se sente, ou seja, desvencilhando-se da criação comum da noção de gênero, o indivíduo, mesmo apresentando características físicas atribuídas biológica e culturalmente a um sexo (masculino ou feminino), não se identifica como tal. Por exemplo, o cartunista brasileiro Laerte, por muito tempo forçou-se a aceitar sua condição biológica de gênero tendo um comportamento culturalmente atribuído a quem nasce com características masculinas. Ultimamente, porém, assumiu sua identidade de gênero, ocasionando uma quebra com as noções vigentes e, mesmo possuindo características físicas masculinas, aderiu costumes atribuídos ao feminino. 

Outro ponto é a orientação sexual, este um tanto quanto confuso no imaginário tradicional cisgênero. A orientação sexual se refere, basicamente, ao que o indivíduo gosta ou o que lhe proporciona prazer, ou seja, está atrelada às noções de homossexualidade e heterossexualidade, porém estas duas nomenclaturas não esgotam seu conteúdo, afinal não existem fronteiras para o prazer humano. 

Por fim, temos o sexo biológico ou como o indivíduo nasce no que se refere às suas características físicas. Determinado pela ação biológica de estruturas denominadas cromossomos, está relacionado à nossa formação embrionária, onde a ligação entre os cromossomos sexuais XX determinam características físicas atribuídas ao feminino e entre os cromossomos XY determinam características físicas atribuídas ao masculino.


A falta de discussão sobre estes conceitos em meios influentes acaba levado à margem os setores envolvidos nas lutas por causas que se relacionam à identidade sexual e ao gênero. Podemos tomar como exemplo de tal afirmação as constantes acusações e ataques ao deputado federal, eleito em 2010 pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) do Rio de Janeiro, Jean Willys. Este, além de ser o único deputado que se pronuncia abertamente homossexual, tem em seu plano de governo projetos de lei como o PL 4916/2012 - que "assegura preferência às empresas que tenham programas pró-equidade de gênero, identidade de gênero, orientação sexual e/ou raça/etnia, bem como projetos de inserção de idosos e idosas no mercado de trabalho como critério de desempate no processo licitatório". Por este e outros projetos, além da defesa da inserção das discussões da questão do gênero na Lei de Diretrizes de Base, Willys é acusado de ser um "Ditador Gayzista" pelos setores mais conservadores, tanto da política quanto da comunidade religiosa. 

Os setores conservadores, que por vezes se comprometeram com o fornecimento da cura das consideradas inadequações sexuais (vide PDC 234/11 do deputado federal João Campos - PSDB) através de tratamento psicológico, indo inclusive em direção contrária ao relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde em 17 de maio de 1990, que retira a homossexualidade da condição de doença, não levam em consideração que as questões envolvidas podem sim acarretar um problema à saúde pública, mas não à extinção da humanidade por falta de agentes reprodutores, como é previsto em discursos mais drásticos dos defensores da existência de desvios sexuais, e sim ao aumento no número de suicídios, casos de depressão e neurose devido à pressão a que são submetidos os indivíduos que, por assumirem um gênero meramente social, imposto culturalmente, não conseguem se reconhecer, em alguns casos, pela própria repressão. 

Movimentos como o queer ou o anarco queer, surgidos no seio do maio de 1968 e embalados pelo pensamento foucaultiano, atribuem à clausura e privatização do sexo enquanto objeto de discussão grande parte dos problemas envolvendo a sexualidade, pois a redução do sexo à relação entre um pênis e uma vagina o limita ao carnal, ao tabu e ao pecado, impossibilitando seu tratamento enquanto um regulador social estabelecido pela sociedade patriarcal e que serve, além da reprodução e do prazer masculino heterossexual, para reafirmar o poder do homem sobre mulher, defendido por este sistema. 

Sob esta ótica, podemos considerar que, apesar da possibilidade atual do relacionamento entre amor e sexo, esta se limita, ainda aos mantenedores das relações socioculturais estabelecidas no final da era moderna, que ainda constituem as maiorias e que, em grande parte dos casos, tem suas práticas e costumes reconhecidos como modelo, e as minorias, que buscam o reconhecimento de seus direitos e ficam fadadas à disfunção.


* Acadêmico de Licenciatura em História pelas Faculdades Integradas de Itararé. Atua como estagiário na Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Itararé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário