terça-feira, 9 de setembro de 2014

Quando o discurso ambiental encobre o sangue

por MARCUS VINÍCIUS DO NASCIMENTO 

A Amazônia é o maior bioma terrestre brasileiro e que ocupa uma área de milhões de quilômetros quadrados, contando com a maior bacia hidrográfica do planeta e com recursos minerais que são estimados em mais um trilhão de dólares. A pressão econômica sobre a região é enorme e a tensão pela posse da terra também.


A região, tradicionalmente, foi ocupada pelas populações indígenas, porém as novas necessidades geradas pela Revolução Industrial fariam com que um grande número de pessoas tentasse sobreviver a partir da exploração do látex na virada do século XIX para XX. 

Na década de 1940 houve um declínio na economia da borracha e a região ficou “esquecida” até quando o governo militar, vendo na região um grande potencial econômico, resolveu integrá-la aos mercados nacionais e internacionais. As rodovias Belém-Brasília, a famigerada Transamazônica e a criação da SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) foram os símbolos dessa tentativa de integração. 

A partir desse momento, uma grande massa migratória se destinou à região. Eram madeireiros, ricos fazendeiros, miseráveis, garimpeiros, prostitutas e assassinos de aluguel. A violência na região, motivada principalmente, pela posse da terra, tornou-se frequente e a ignorância de grande parte da população em relação à titulação da mesma facilitava a ação dos grileiros. Ao perder sua terra seja pela força das armas ou da lei, o trabalhador rural se via forçado a trabalhar para aquele que o desalojou, ou seja, os madeireiros ou fazendeiros.

Foi nesse contexto cruel que nasceu Marina Silva, candidata à presidência da república pelo PSB. Filha de um seringueiro, teve que superar inúmeras adversidades para sobreviver até conseguir ingressar na política. Marina sempre se apresentou como uma defensora do meio ambiente, ganhou projeção com isso e se tornou ministra do meio ambiente no governo Lula. Pelo histórico de Marina era de se esperar que ela lutasse com unhas e dentes pelos “povos da floresta”, no entanto a sua candidatura em 2014 ao lado do PSB mostra o contrário. 

No ano de 2011, foi votado o retrógrado Código Florestal e, dos trinta deputados do PSB, apenas três foram contra. Os deputados com quem ela bateu de frente hoje são os seus principais aliados. Isso não faz com que Marina deixe de ser uma ambientalista, mas a coloca de um lado nos conflitos pela terra na Amazônia, principalmente ao afirmar, no último debate da TV Bandeirantes, que Chico Mendes fazia parte da elite.



A política ambiental de Marina, de acordo com a nota divulgada pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre), fundado por Chico Mendes, “prejudica a manutenção da cultura tradicional de manejo da floresta e a subsistência, e favorece empresários que, devido ao alto grau de burocratização, conseguem legalmente devastar, enquanto os habitantes das florestas cometem crimes ambientais.” 

A “nova política” defendida por Marina é uma política ambiental que favorece os grandes empresários e o capital, e que marginaliza ainda mais os povos da floresta, de onde sairão mais “Chicos” e “Dorothys”. 

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