De tão confusa, Marina Silva virou sua própria cartolina
por MURILO CLETO
Ao contrário do que sempre defendi desde o início das veiculações partidárias desde junho de 2013, Marina Silva e o PSB parecem, mais do que nunca, materializar o legado das manifestações que atingiram o Planalto como nunca se viu na jovem democracia brasileira. E no pior sentido possível.
Existe muito pouco pra se dizer sobre Marina Silva depois de "Mais do mesmo", de Clóvis Gruner. Mas a confirmação do Datafolha de sua ascensão nas pesquisas torna inevitável uma analogia entre a candidata do PSB e o cenário político que contagiou as redes sociais e também as ruas.
Marina Silva é o cara que levantou uma cartolina contra a PEC 37 sob a argumentação de que ela representava o monopólio... Do que? Não me perguntem, pois eu não faço ideia, e também ninguém se esforçou pra dizer.
Desde a desfiliação do Partido Verde, Marina Silva segura várias cartolinas. A principal delas foi a da criação da Rede Sustentabilidade, no início de 2013, barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral devido ao número excessivo de assinaturas irregulares como parte condicionante de sua fundação.
Com a promessa de ser o primeiro partido "legenda pura" no Brasil, a Rede Sustentabilidade anunciou um estatuto que veta doações de grandes empresas e a filiação de políticos "ficha-suja", assim como as alianças que viraram moeda de troca no cenário nacional. "Nem de esquerda, nem de direita", disse Marina Silva sobre a Rede. E, de fato, o partido não é uma coisa e nem outra. Aliás, hoje, nem partido é.
Marina Silva é a cartolina do moralismo. Aquele que diz combater a corrupção sem dizer como nem qual. Marina é a cartolina da demagogia. Em reunião com empresários, diz que o mercado precisa de regras claras para evitar crises econômicas, como essa que se força dizer que o Brasil entrou com a "recessão técnica". Só não diz quais as regras, muito menos como mudá-las. E hoje dá as mãos ao agronegócio como se nunca tivesse sido um de seus principais combatentes retóricos.
Marina é a cartolina do Constantino. Exige que o estado corte gastos públicos, mas não diz quais. Defende programas que são o sustentáculo dos 12 anos de PT no poder e não diz exatamente como vai romper com ele. Ou até diz, daquele mesmo jeito que também não se diz absolutamente nada. Vai acabar com a velha política? Ótimo, mas ter aceito o convite do PSB demonstra que isso não é tão pra ontem assim. Por enquanto, tudo bem receber doações de grandes empresas, aliar-se ao agronegócio, aos bancos, nem explicar quem comprou o jatinho que matou Campos no mês passado.
Houve quem se espantasse com a vexatória recuada de Marina no último sábado sobre direitos da comunidade LGBT em seu programa de governo anunciado um dia antes. Eu, sinceramente, não. Marina é isso mesmo, um ponto de interrogação que ganhou holofotes e hoje lidera as pesquisas de intenção de votos para governar o país.
Junho de 2013 foi muito mais do que isso. É verdade. Mas é indiscutível que este foi um dos seus maiores legados: a cartolina. A cartolina da educação, da saúde, contra a corrupção, contra os gastos públicos. Talvez ali, numa cartolina, coubesse o programa de governo de Marina e o PSB. Genérica, demagoga e mutável como um trabalho escolar.
De tão confusa, Marina virou sua própria cartolina. Uma caricatura de si desenhada por cada trapalhada travestida de "nova política".
Abraços,
Murilo
Em 2010, conheci uma candidata diferente, uma candidata forte e que mudaria a política nacional, empolgante isso, mas este ano, conhecemos uma pessoa rendida a politicagem. Infelizmente, com o tempo as pessoas costumam mostrar seus reais interesses e seus reais pensamentos, não vejo nem sombra daquela Marina de 2010, vejo um belo reflexo da nossa sociedade hipócrita e demagoga, onde defende-se o desconhecido, ignora o necessário e discursa o impossível. Mas enfim, da política a politicagem, nunca alguém mudou tanto. Texto muito bem feio, e ideias muito bem colocadas, parabéns.
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