segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Uma cartolina

De tão confusa, Marina Silva virou sua própria cartolina


por MURILO CLETO

Ao contrário do que sempre defendi desde o início das veiculações partidárias desde junho de 2013, Marina Silva e o PSB parecem, mais do que nunca, materializar o legado das manifestações que atingiram o Planalto como nunca se viu na jovem democracia brasileira. E no pior sentido possível. 

Existe muito pouco pra se dizer sobre Marina Silva depois de "Mais do mesmo", de Clóvis Gruner. Mas a confirmação do Datafolha de sua ascensão nas pesquisas torna inevitável uma analogia entre a candidata do PSB e o cenário político que contagiou as redes sociais e também as ruas.

Marina Silva é o cara que levantou uma cartolina contra a PEC 37 sob a argumentação de que ela representava o monopólio... Do que? Não me perguntem, pois eu não faço ideia, e também ninguém se esforçou pra dizer.

Desde a desfiliação do Partido Verde, Marina Silva segura várias cartolinas. A principal delas foi a da criação da Rede Sustentabilidade, no início de 2013, barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral devido ao número excessivo de assinaturas irregulares como parte condicionante de sua fundação.

Com a promessa de ser o primeiro partido "legenda pura" no Brasil, a Rede Sustentabilidade anunciou um estatuto que veta doações de grandes empresas e a filiação de políticos "ficha-suja", assim como as alianças que viraram moeda de troca no cenário nacional. "Nem de esquerda, nem de direita", disse Marina Silva sobre a Rede. E, de fato, o partido não é uma coisa e nem outra. Aliás, hoje, nem partido é.

Marina Silva é a cartolina do moralismo. Aquele que diz combater a corrupção sem dizer como nem qual. Marina é a cartolina da demagogia. Em reunião com empresários, diz que o mercado precisa de regras claras para evitar crises econômicas, como essa que se força dizer que o Brasil entrou com a "recessão técnica". Só não diz quais as regras, muito menos como mudá-las. E hoje dá as mãos ao agronegócio como se nunca tivesse sido um de seus principais combatentes retóricos.

Marina é a cartolina do Constantino. Exige que o estado corte gastos públicos, mas não diz quais. Defende programas que são o sustentáculo dos 12 anos de PT no poder e não diz exatamente como vai romper com ele. Ou até diz, daquele mesmo jeito que também não se diz absolutamente nada. Vai acabar com a velha política? Ótimo, mas ter aceito o convite do PSB demonstra que isso não é tão pra ontem assim. Por enquanto, tudo bem receber doações de grandes empresas, aliar-se ao agronegócio, aos bancos, nem explicar quem comprou o jatinho que matou Campos no mês passado.

Houve quem se espantasse com a vexatória recuada de Marina no último sábado sobre direitos da comunidade LGBT em seu programa de governo anunciado um dia antes. Eu, sinceramente, não. Marina é isso mesmo, um ponto de interrogação que ganhou holofotes e hoje lidera as pesquisas de intenção de votos para governar o país.

Junho de 2013 foi muito mais do que isso. É verdade. Mas é indiscutível que este foi um dos seus maiores legados: a cartolina. A cartolina da educação, da saúde, contra a corrupção, contra os gastos públicos. Talvez ali, numa cartolina, coubesse o programa de governo de Marina e o PSB. Genérica, demagoga e mutável como um trabalho escolar.

De tão confusa, Marina virou sua própria cartolina. Uma caricatura de si desenhada por cada trapalhada travestida de "nova política". 

Abraços, 
Murilo

Um comentário:

  1. Em 2010, conheci uma candidata diferente, uma candidata forte e que mudaria a política nacional, empolgante isso, mas este ano, conhecemos uma pessoa rendida a politicagem. Infelizmente, com o tempo as pessoas costumam mostrar seus reais interesses e seus reais pensamentos, não vejo nem sombra daquela Marina de 2010, vejo um belo reflexo da nossa sociedade hipócrita e demagoga, onde defende-se o desconhecido, ignora o necessário e discursa o impossível. Mas enfim, da política a politicagem, nunca alguém mudou tanto. Texto muito bem feio, e ideias muito bem colocadas, parabéns.

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