quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Levy estará no Congresso

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR


No dia 28 de setembro, em debate na TV Record, o jornalista e candidato à presidência da República pelo Partido Republicano Trabalhista Brasileiro (PRTB), Levy Fidelix, quando questionado pela candidata Luciana Genro, do Partido Socialismo e Liberdade  (PSOL), sobre o casamento gay discursou: “Tenho 62 anos e, pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais. Desculpe, mas aparelho excretor não reproduz. Como é que pode um pai de família, um avô, ficar aqui escorado porque tem medo de perder voto? Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto. Vamos acabar com essa historinha. Eu vi agora o santo padre, o papa, expurgar, fez muito bem, do Vaticano, um pedófilo. Está certo. O Brasil tem 200 milhões de habitantes, daqui a pouquinho vai reduzir para 100 [milhões]. Vai para a Avenida Paulista, anda lá e vê. É feio o negócio. Gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los. Não tenha medo de dizer que sou pai, avô, e o mais importante, é que esses que têm esses problemas realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente, bem longe mesmo porque aqui não dá.” 


O discurso homofóbico de Levy Fidelix rendeu, além de protestos nas redes sociais, holofotes para uma campanha sem programa de governo, e, espantosamente, uma votação recorde para o candidato. De 0,06% dos votos – ou 57.960 eleitores – em 2010, Levy saltou para 0,43% e surpreendentes 446.878 votos. O número evidencia a ascensão do discurso de ódio travestido de conservadorismo no Brasil. Porém, este fenômeno não é exclusivamente nacional. 

Nas eleições de maio para o Parlamento Europeu, a extrema direita se fortaleceu. Segundo Michael Löwy, a ascensão da extrema direita não pode ser explicada apenas pela crise econômica mundial. O sociólogo propõe uma discussão mais profunda para a compreensão deste fenômeno. Se na década de 1930, os partidos de extrema direita obtinham entre 10 e 20% dos votos, atualmente na França, Inglaterra e Dinamarca já atingem entre 25 e 30%. A extrema direita europeia é muito diversa, vai desde partidos assumidamente nazistas, como o Aurora Dourada na Grécia, até partidos já perfeitamente instalados nas instâncias de poder, como a União Democrática de Centro (UDC), na Suíça. Em comum, os partidos defendem o nacionalismo excessivo, a xenofobia, o racismo, o ódio contra imigrantes, a islamofobia, o anticomunismo, a homofobia, a misoginia, o autoritarismo e o desprezo pela democracia. Parte importante dos altos escalões dos partidos de extrema direita na Europa tem ligações históricas com o fascismo e o nazismo que não devem ser desprezadas, mas, por outro lado, admitem a ascensão ao poder via disputa eleitoral. 

No Brasil, candidatos que pregam o racismo, a homofobia e o autoritarismo farão parte do Congresso Nacional mais conservador desde 1964, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar - DIAP. De acordo com o estudo apresentado pelo departamento, houve um aumento das bancadas "religiosa" e "da bala", ou seja, de pastores e militares no Congresso. Além deles, outros grupos, como os ruralistas, ligados à tradição conservadora, também elegeram um número expressivo de parlamentares. Desta forma, temas como o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização das drogas devem ficar esquecidos, enquanto outros, como a redução da maioridade penal, devem vir à tona novamente. 

Os exemplos utilizados serão de parlamentares eleitos nos estados do Sul e Sudeste apenas. Em São Paulo, o Pastor Marcos Feliciano do Partido Social Cristão (PSC) foi reeleito Deputado Federal com 398.087 votos. Ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos no Congresso Nacional, Feliciano defende abertamente a homofobia e o racismo. Dentre as teses do parlamentar, estão as que os africanos foram amaldiçoados, sendo que "a maldição que Noé lança sobre o seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas". Em outro discurso Feliciano afirmou o seguinte: "não tenho nenhum tipo de preconceito. Na minha secretaria, vou atender negros e gays como se fossem qualquer pessoa normal. Não coloco gays e negros no mesmo balde como muitos dizem por aí. Ser gay é uma questão de escolha, ser negro é uma questão de azar". Além do racismo, o deputado cristão defende a abolição do termo "homossexual" do dicionário e a chamada "cura gay", entendendo o homossexualismo como doença. 

No Rio Grande do Sul, Luiz Carlos Heinze, do Partido Progressista (PP) foi eleito o Deputado Federal mais votado com 162.462 votos. Em audiência pública no município de Vicente Dutra-RS, em novembro de 2013, Heinze proferiu o seguinte discurso: "No mesmo governo, seu Gilberto Carvalho, também ministro da presidenta Dilma, estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta, e eles têm a direção e o comando do governo". Ademais, o deputado defendeu a formação de milícias armadas para não permitir a demarcação de terras indígenas. Por tudo isso, a ONG inglesa “Survival” concedeu a Heinze o título de "racista do ano". 


No Rio de Janeiro, o mais caricato exemplo da "extrema direita à brasileira", Jair Bolsonaro, do Partido Progressista (PP) foi reeleito o Deputado Federal mais votado do Estado com 465.572 votos. Racista, homofóbico e defensor do autoritarismo e da Ditadura Civil-Militar, Bolsonaro se tornou uma "caricatura de si mesmo". Contra o homossexualismo, o deputado sugere que os pais utilizem a violência, pois segundo ele "ter filho gay é falta de porrada!". No documentário "Out There", dirigido pelo comediante inglês Stephen Fry para a BBC inglesa, Bolsonaro afirmou que “nós, brasileiros, não gostamos dos homossexuais”. 

Em relação aos negros, Bolsonaro se colocou contrário ao Projeto de Lei nº. 6.738/13, que reserva cotas para negros no serviço público, afirmando que "esse projeto é separatista, racista e imoral". Reafirmando o posicionamento racista, o deputado afirmou que os filhos dele não correm risco de se apaixonarem por uma negra, pois são contra a promiscuidade e foram bem educados. Durante a sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados no dia 7 de março de 2013, Bolsonaro esbravejou contra os manifestantes do movimento negro atacando-os com a frase “voltem para o zoológico”. 

 
Se não bastasse os posicionamentos homofóbicos e racistas, Bolsonaro é defensor ferrenho da Ditadura Civil-Militar. O deputado defende a tese de "Revolução" apoiada pela população contra a "ameaça comunista". Tese rechaçada pela historiografia, porém ainda defendida por simpatizantes do regime de exceção. Não obstante, o parlamentar defende a tortura e afirma que o grande erro dos militares foi não ter matado todos os opositores. Neste ano, Bolsonaro solicitou à Câmara Federal a possibilidade de uma sessão de homenagem ao Golpe Militar de 1964 e foi atendido. A sessão solene só não foi realizada pois parlamentares e movimentos sociais protestaram na Câmara ficando de costas para Bolsonaro. Desta forma, para evitar conflitos, o presidente da sessão, deputado Amir Lando (PMDB-RO), encerrou a sessão. Após a eleição de domingo, 5 de outubro, Bolsonaro já anunciou que será candidato à Presidência da República em 2018 para representar a "direita no Brasil", independentemente do posicionamento do seu partido. 



Dentre outros fatores explicativos para a ascensão da "extrema direita brasileira", podemos destacar: 1) A cultura de desqualificação da política, por meio do discurso extremamente denunciatório que coloca em xeque a credibilidade da Democracia, levando a opção por políticos extremistas; 2) A forma "caricata" ou mesmo "cômica" com que estes atores políticos são encarados, como se o pensamento que eles expressam fosse "engraçado", retira os mesmos do debate sério, neutralizando a resistência contra o pensamento extremista. 

Diante deste panorama, podemos afirmar que, mesmo não eleito, Levy e o seu "aparelho excretor" estarão representados no Congresso Nacional pelos próximos 4 anos. 

Abraços, 
Osvaldo.

Um comentário:

  1. Depois que vi um grupo auto intitulado Nova Direita Cultural, eu não duvido de mais nada. Não entendo (juro que não sou do stand up), como pode um grupo falar o que bem entende e se dizer a serviço da liberdade de expressão, sendo que o processo democrático não era a especialidade dos governos fascistas. Agora pululam pela internet mensagens racistas contra nordestinos (sobre o fato de votarem no pt) e africanos (ebola). Os primeiros são acusados de não saber votar, e os que criticam os segundos acham que o Haiti fica na África. Tb vemos os comentários dos médicos sobre "genocídio" nordestino, sendo que os mesmos reelegeram bolsonaro e seus asseclas. Porém, quando surgiram as "manifestações" de julho, acreditavam que estavam fazendo parte do amadurecimento processo democrático brasileiro. Vai entender...

    ResponderExcluir