quinta-feira, 28 de agosto de 2014

História de Itararé: "A Era das Revoluções"

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

No clássico “A era das revoluções”, Eric Hobsbawm apresenta as transformações ocorridas entre 1789 e 1848, por conta da chamada "dupla revolução": a Revolução Francesa e a Revolução Industrial Inglesa. Ambas alteraram as estruturas político-econômicas do mundo ocidental colocando fim à nominada Idade Moderna e dando início à Idade Contemporânea. 

Itararé teve a sua “era das revoluções” ou “década das revoluções”, período em que foi palco de dois grandes eventos históricos, que, se não transformaram o Brasil como a "dupla revolução", transformaram o mundo ocidental, promoveram mudanças substanciais no panorama político nacional: a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932. 

A Proclamação da República organizada pelos militares e pelas elites em 1889, e assistida pela população “bestializada”, marcou o início da Primeira República ou República Velha. Este período é “didaticamente” dividido em dois: República das Espadas (1889-1894) e a República das Oligarquias (1894-1930). Durante a República das Espadas o Brasil foi governado pelo Marechal Deodoro da Fonseca e pelo Marechal Floriano Peixoto. A Revolta da Armada (1893-1895) e a Revolução Federalista (1893-1895), que inclusive teve como palco da resistência Itararé, desgastaram o governo dos marechais e abriram espaço para a chegada dos civis ao poder. Em 1894, o paulista Prudente de Moraes assumiu como primeiro presidente civil, dando início à República das Oligarquias. Neste período, o Brasil foi governado por representantes das oligarquias dos dois principais estados: São Paulo e Minas Gerais. Esta política de “revezamento” ficou conhecida como “política do café com leite”. A manutenção desta política se dava, principalmente, por meio do “voto de cabresto”. Neste sistema, ocorria a troca do voto por benefícios materiais ou mesmo a coerção física ou psicológica para determinar o voto. 

Na década de 1920 lançou-se como candidato à presidência Artur Bernardes. Irritados com a “polarização” política, militares do Rio Grande do Sul organizaram um movimento contrário ao governo republicano que ficou conhecido como “tenentismo”. Este movimento simbolizou o descontentamento com a manutenção do poder nas mãos das oligarquias do café e o interesse dos militares de participarem mais efetivamente da vida política do país. Em 1929, os paulistas decidiram lançar Julio Prestes, o que desagradou os mineiros que formaram com outros estados a Aliança Liberal. Esta aliança lançou para a presidência Getúlio Vargas (então governador do Rio Grande do Sul). Derrotado nas eleições por uma diferença de cerca de 300 mil votos, porém apoiado por setores da população e pelo exército, Vargas deu um golpe de Estado e assumiu o poder no dia 3 de novembro de 1930. Itararé, localizada na fronteira entre os estados do Paraná e São Paulo, acabou sendo palco da “resistência” dos legalistas. Primeiro, por se tratar de uma “cidade de divisa”. Segundo, por se tratar de uma região de “difícil acesso” com formações rochosas naturais e escorregadias, o que dificultaria a vitória dos “revolucionários”. 

No dia 4 de outubro começaram a chegar as tropas legalistas em Itararé. O 2º batalhão de Itapetininga e o 4º batalhão da Capital, além de tropas de Itú, Quitaúna e das forças públicas, ficaram sob o comando do coronel Paes de Andrade. A luta começou “do lado de lá” da Barreira, no Morungava. As pessoas viviam amedrontadas pelo barulho de canhões e metralhadoras. Correram informações de que a cidade seria bombardeada pelas tropas revolucionárias. Com isso, no dia 18 de outubro o povo se evadiu procurando abrigo nas zonas rurais ou em outros municípios vizinhos. Casas, lojas e armazéns foram saqueados.


Segundo Adriano Queiroz Pimentel, no dia 19 de outubro daquele ano Itararé estava com aspecto triste de uma cidade abandonada. Casas vazias, a estação ferroviária servindo de quartel para as tropas legalistas e trincheiras nos altos da Santa Casa compunham o cenário de guerra. Eram 2.400 homens nas tropas legalistas contra 4.200 homens nas tropas “revolucionárias”. O combate durou 14 horas e os “revolucionários” avançavam para romper a fronteira por Itararé. Paes de Andrade comunicou a dificuldade aos superiores que determinaram “defenda Itararé a todo transe”. A próxima batalha ou grande ataque dos “revolucionários” estava marcado para começar ao meio-dia do dia 25 de outubro. Porém, às 7 horas da manhã, o deputado gaúcho Glicério Alves transpôs a barreira entre as tropas com uma bandeira branca. 

O gaúcho propôs rendição a Paes de Andrade com a afirmação de que havia recebido a notícia de que o presidente Washington Luís fora deposto. A notícia foi confirmada e a “junta governativa” que assumiu a presidência ordenou o fim das hostilidades. Por conta da rendição, a grande ofensiva ficou conhecida como “batalha que não houve”. No dia seguinte, os soldados “revolucionários” entraram em Itararé expondo as armas e foram saudados com fogos, comemoração de “alívio” pelo fim dos conflitos na região. Três dias depois, a 28 de outubro, Getúlio Vargas desembarcou na estação ferroviária de Itararé, a caminho do Rio de Janeiro. Recepcionado na estação ferroviária, Vargas seguiu para o Rio de Janeiro para assumir a presidência da República, colocando fim à Primeira República ou República Velha. 


A “Revolução de 1930” trouxe desdobramentos para Itararé, “desde as sátiras de um jornalista gaúcho até a alteração de algumas ruas” (BARRETO, 2013. p. 39). A cidade passou por transformações em decorrência deste evento histórico. Após o movimento de 1930, Apparício Torelly, jornalista gaúcho, passou a utilizar o pseudônimo “Barão de Itararé”. Isso para ironizar as nomeações em benefício daqueles que apoiaram a Aliança Liberal. Em forma de sátira, o jornalista dedicou a ele mesmo o título de nobreza, se denominando barão da “cidade da batalha que não houve”. 

Exceto em Minas Gerais, todos os presidentes dos estados foram indicados por Vargas. Nestes estados, foram nomeados novos prefeitos para os municípios. Em Itararé, Herculano Pimentel foi substituído por Paulo Ferreira, conhecido comerciante, membro do Partido Democrático, que apoiou a Aliança Liberal. Uma das primeiras medidas do seu governo foi alterar nomes de praças e ruas. A praça São Pedro passou a denominar João Pessoa, a praça Washington Luiz virou Siqueira Campos e a rua Coronel Acácio, 24 de outubro. 

Para governar o Estado de São Paulo foi indicado o tenente pernambucano João Alberto. O autoritarismo de Vargas começou a ser questionado pelo PD (Partido Democrático) paulista, que tinha apoiado Vargas em 1930, juntamente com o PRP (Partido Republicano Paulista). João Alberto ficou pouco no cargo e em julho de 1931 pediu demissão. No intervalo de um ano, três interventores foram nomeados. Aumentava a insatisfação com o governo provisório de Vargas. 

No dia 25 de janeiro de 1932, dia do aniversário de São Paulo, os paulistas se reuniram na Praça da Sé para exigir uma nova Constituição e a realização de eleições. 200 mil pessoas participaram da manifestação. Em fevereiro de 1932, a partir da união entre o PRP e o PD, foi formada a Frente Única. 

No dia 23 de maio nova manifestação foi o estopim para o início do conflito. Houve novamente uma grande mobilização nas ruas de São Paulo com um comício na Praça do Patriarca. A partir dos discursos inflamados, alguns manifestantes foram até a sede da Legião Revolucionária, órgão fiel ao governo federal que abrigava os jornais getulistas, “Correio da Tarde” e “A Razão”. Em meio ao ataque que resultou em tiroteio com 13 mortos, morreram quatro estudantes: Miragaia, Martins, Drausio e Camargo. As iniciais dos falecidos deram nome à primeira milícia civil da Revolução de 1932 ou “A guerra paulista”, o MMDC. 

Em março, Vargas nomeou um interventor civil e paulista para São Paulo e ainda acreditava em um desfecho pacífico. Porém, nem a escolha de Pedro Toledo acalmou os ânimos, e no dia 9 de julho São Paulo deu início à guerra. Imprensa, militares e civis foram envolvidos pelo discurso das elites paulistas de defesa da constitucionalidade. No início, o plano era chegar à capital pelo Vale do Paraíba, porém a inferioridade militar levou os paulistas a adotarem uma guerra de “trincheiras”, ou seja, muito mais defensiva. No front eram 28.000 soldados paulistas, sendo 14.000 soldados do Exército e da Força Pública, e 14.000 civis, contra 100.000 soldados legalistas. 

A imprensa de São Paulo impulsionava os soldados e procurava atingir a população de diferentes formas. Cartazes convocavam os paulistas para a batalha, sugerindo a doação de bens para o financiamento das tropas e a participação das mulheres na retaguarda. 

 

Itararé novamente foi palco dos conflitos entre constitucionalistas e legalistas, sendo novamente escolhida para sediar a resistência paulista contra as tropas que vinham do sul. Começaram a desembarcar os soldados constitucionalistas na Estação Ferroviária. O Cine São Pedro, o Cine São José e o Grupo Escolar foram transformados em quartéis. Conta-se que Paulo Ferreira, prefeito de Itararé e correligionário de Vargas, mandava estourar rojões para avisar a localização dos paulistas para os legalistas. 

A imprensa itarareense se dividiu. O jornal “Sul de São Paulo”, de Walfrido Rolim de Moura, defendia Vargas e atacava os constitucionalistas, tanto que o mesmo foi ameaçado por um coronel constitucionalista. Mesmo com a ameaça, Walfrido Rolim de Moura escreveu novos ataques contra os paulistas e fugiu pelo rio Itararé com seu filho Plínio para Sengés. O jornal “O Itararé”, de propriedade da família Tatit, aderiu aos constitucionalistas e teve a sua sede destruída logo após a invasão dos legalistas à cidade. 

Os conflitos na cidade foram do dia 15 ao dia 18 de julho e envolveram tropas constitucionalistas e legalistas que se enfrentaram na Barreira e na fazenda Morungava, outrora palcos da Revolução de 1930. De acordo com Cecília Duarte Fogaça: 

Quando começaram os combates na Barreira, à noite, podia ser visto da cidade o céu vermelho colorido pelo fogo dos canhões na Fazenda Morungava. Os disparos vinham assobiando numa tocha de fogo. Corriam boatos de que a cidade de Itararé seria bombardeada e muitas pessoas fugiam assustadas; outras temiam os saques, se fugissem. 
Dizia-se que o inimigo iria envenenar a água da cidade. O Prof. Ziller, diretor do Ginásio Rio Branco que ficava na praça Coronel Jordão, tinha organizado uma Linha de Tiro e o colocou os atiradores para protegerem a caixa d'água. Quando começaram os tiroteios, os rapazes abandonaram a guarda e também fugiram. 
Um avião paulista sobrevoava Itararé, acabando por assustar aqueles que não tinham fugido. Os inimigos lançaram granadas que destruíram a torre da Igreja Matriz, atingiram o campo de futebol do Fronteira, casas na rua São Pedro, além de fazer crateras em vários pontos dessa rua (FOGAÇA, Cecília Duarte, 2001 apud BANDONI, 2008. p. 36). 

Apesar das derrotas pontuais, os constitucionalistas resistiram em Itararé, até que no dia 18 de julho o Coronel Kingelhoefer, alemão, veterano da Primeira Guerra Mundial, ordenou que as tropas se retirassem para a defesa do Vale do Paranapanema. Com isso, Itararé ficou desguarnecida, sendo tomada pelos legalistas. 

No dia 19 de julho, as forças do governo ocuparam a cidade e o jornalista Walfrido Rolim de Moura foi nomeado prefeito. Membros da Frente Única Itarareense, como Theódulo Pimentel e Heitor Cortes, entre outros, foram presos e enviados para Curitiba. Mais uma vez, o município de Itararé foi palco de um conflito de proporções nacionais. 

A inferioridade numérica e bélica foi preponderante para a rendição no dia 2 de outubro. Os constitucionalistas tiveram 634 mortos, mas o número total de mortos ultrapassou 1.000. Apesar da derrota paulista, em 1934 Getúlio Vargas promulgou a Constituição, o que não representou a democratização do país. Pelo contrário, em 1937 Vargas deu início ao Estado Novo, governo ditatorial que só chegou ao fim em 1945. 

Em síntese, se a “era das revoluções” em Itararé não provocou as mudanças estruturais que a homônima europeia, colocou Itararé em posição de protagonismo na história do Brasil.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Itararé: a outra batalha que não houve

Entre os anos de 1893 e 1895, a pacata Itararé foi um dos palcos das operações militares ocorridas na Revolução Federalista que sacudiu a região sul do país, deixando um rastro de violência e brutalidade.

por MARCUS VINÍCIUS DO NASCIMENTO

Forças rebeldes se unindo: na imagem, o encontro de Gumercindo Saraiva (no cavalo branco) com o contra-almirante Custódio de Melo (do seu lado direito) no Paraná, em 1893. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/prova-de-fogo-republicana

A partir da segunda metade do século XIX, uma efervescência tanto política quanto intelectual tomou conta do país e acabou por desestabilizar as bases do Império brasileiro, acarretando o nascimento da República em 15 de novembro de 1889. 

Parte deste contexto pode ser entendido pela circulação de ideias de intelectuais, militares e estudantes, denominados como a “geração de 1870”, que defendiam a derrubada do Império e a instauração da República. O Exército, sentindo-se desprestigiado pelo Império, e os descontentes cafeicultores da região sudeste se uniram para a derrubada da monarquia, porém seus projetos de República não estavam alinhados. 

Os cafeicultores ressentidos com a sua representatividade na Corte e pelas medidas abolicionistas de D. Pedro II defendiam a descentralização política e administrativa do país, a proteção economia do café, a separação da Igreja Católica do Estado e a inserção da mão de obra de imigrantes vindos da Europa nas lavouras de café. Já o Exército, influenciado pela atuação do professor Benjamin Constant na Escola Militar, baseava sua ideia de República no positivismo de Auguste Comte, procurando desse modo dar uma sustentação “científica” à sua visão autoritária de poder. 

O projeto conservador e autoritário do Exército acabou vencendo e cadeira presidencial foi ocupada sucessivamente por dois militares. Isso se explica, em parte, pela atuação dos membros do Exército nos eventos do dia 15 de novembro de 1889, quando o até então monarquista marechal Deodoro da Fonseca destituiu o ministério de Ouro Preto e proclamou a República. 

Deodoro liderou o Governo Provisório (1889-1891), que ficou responsável por estabelecer as novas instituições republicanas e a nova carta constitucional do país. A primeira eleição, após a promulgação da Constituição de 1891, elegeu, via Congresso Nacional, o marechal Deodoro da Fonseca para presidente e o marechal Floriano Peixoto para vice. 

O Governo Constitucional de Deodoro em 1891, no entanto, foi marcado por grande instabilidade política, o que redundou na sua renúncia e na posse de seu vice. O marechal Floriano Peixoto iniciaria um governo extremamente violento, o que o faria ser apelidado de Marechal de Ferro. 

A reorganização dentro dos quadros dirigentes que se seguiu após o 15 de novembro criou animosidades entre as diversas forças políticas, principalmente no Rio Grande do Sul. E de acordo com Boris Fausto: 

Uma das regiões politicamente mais instáveis do país nos primeiros anos da República era o Rio Grande do Sul. Entre a proclamação da República e a eleição de Júlio de Castilhos para a presidência do Estado, em novembro de 1893, dezessete governos se sucederam no comando do Estado. Opunham-se, de um lado, os republicanos históricos adeptos do positivismo, organizados no Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e, de outro, os liberais. Em março de 1892 estes fundaram o Partido Federalista, aclamando como seu líder Silveira Martins, prestigiosa figura do Partido Liberal no Império. (FAUSTO, 2010, p. 144)

Os embates entre os federalistas (maragatos) e os castilhistas (pica-paus) deram início a uma violenta guerra civil, chamada também de Revolução da Degola pela brutalidade como os prisioneiros eram executados. Em poucos meses, a guerra, iniciada no Rio Grande do Sul, adentrava os territórios de Santa Catarina e do Paraná. 

Após ocupar Curitiba, Gumercindo Saraiva, uma das principais lideranças dos federalistas, tinha como intenção invadir o estado de São Paulo e esse caminho passava por Itararé. Diante da iminente invasão de São Paulo, Floriano Peixoto organiza suas defesas no recém-criado município de Itararé. 

Em fevereiro de 1894 o jornal O Correio Paulistano publicava uma carta do comandante das operações em Itararé, o coronel Firmino Pires Ferreira, com a seguinte chamada:


No Rio Grande do Sul, o jornal legalista A Federação publicava uma carta supostamente vinda de São Paulo que falava sobre as movimentações das tropas em Itararé, além de demostrar grande confiança na defesa do território paulista. 

Todos os dias organisam-se forças, formam-se batalhões patrióticos, que marcham para a fronteira do Paraná, indo estacionar nas margens do Itararé, que é o centro militar das operações [...]. 
Não! S. Paulo não será invadido! Porque todos os meios de defesa têm sido postos em execução! Hoje já Itararé communica-se telegraphicamente com a capital federal, e ao primeiro vestígio de federalistas na fronteira o marechal Floriano dobrará as forças que guardam a integridade de S.Paulo. (A FEDERAÇÂO, 29/03/1894) 

Em abril daquele mesmo ano, de acordo com o telegrama publicado pelo jornal O Correio Paulistano, as informações que circulavam em Buenos Aires eram que a cidade de Itararé havia caído nas mãos dos federalistas: 

Espalhou-se aqui que o chefe insurrecto Gumercindo Saraiva ocupou no estado de S. Paulo a fortaleza (sic) de Itararé, onde uns 3 mil homens capitularam. (Correio Paulistano, 11/04/1984) 

No entanto, as tropas federalistas estavam consumidas pelos embates no Paraná e, ao perceberem uma grande movimentação na fronteira, optaram por não atacar Itararé para reorganizar suas forças. 

O jornal paranaense A República, ao mencionar as festividades ocorridas na cidade de Imbituva-PR para receber o Batalhão Frei Caneca, reafirma que não houve ataque ou batalha: 

[...] o Frei Caneca, aquelle que desde rebentada a revolução postou-se no Itararé como um forte baluarte, impendido desta forma que fosse aquelle nosso Irmão Estado de São Paulo assaltado pelos Jacobinos. (A REPÚBLICA, 01/09/1984) 

Os federalistas a partir desse momento começavam a sua retirada rumo ao Rio Grande do Sul, o que não acabou com o conflito. Muitas degolas aconteceriam até o final do conflito em 1895, como a de Gumercindo Saraiva, que mesmo morto teve seu corpo desenterrado e degolado pelos pica-paus. 

Itararé fora poupada do banho de sangue logo no seu nascimento, como seria anos mais tarde na sua mais famosa batalha de 1930, na qual Getúlio Vargas ascenderia à presidência da República. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Pensador.Net III


DESERDADA

sii tooocaaa fiiaa vc naao peerteencee maaiis akeelaa faamiliaa.....‪#‎indireta‬... 
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O PROFESSOR CALADO

quando vc passar por momentos difíceis e se pergunta omde estava deus lenbresse que durante uma prova, o professor esta em silencio''
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MAS NEM UM BOM DIA?

Vc entro no face e nao me dice nem um bom dia valew.....
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QUE NEM BARATA

Gente falsa è que nem barata!
Não tenho medo …mais morro de nojo!!
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PAGAMENTO FITNESS

Alguem sabe me enforma se ja saiu o decimo tresseiro
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27 CONCORDARAM

Eu acho um absurdo uma pessoa de 16 anos ser considerado menor e so responder pelos seus atos infracionais apos os 18, se apartir dos 16 pode votar e exercer seu direito de cidadania,,,,,, Quem e ai concorda cmg!!!
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REALIDADE MAQUIADA

Q LINDO E ESSAS FOTOS Q TIRÃO,,, SO É A REALIDADE VC NÃO GOSTA DELA ????? PQ NOIS CONVIVE NELA MORRA NELA ALGUNS NACERÃO E CRECERÃO NELA , ENTÃO SEUS SEM FUTURO RESPEITEM E FASÃO ALGUMA COISA POR ELA , ELA É AS QUEBRADA QUABRADA ESSES Q PODE QUEBRA... AS PERNA D VCS NO DIA Q VCS PRESISAREM ??????????????????????????????????
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BOM, ESSE NÃO DÁ PRA SABER MESMO DO QUE SE TRATA

E triste guando vc começa apensa nas coisas que vc perdeu ou deicho de vive por simplesmente por nao quere acredita mais em nada mais nao adianta vc fugi da realidade so quero um novo recomeço e nada mais e ve se consigo conquista a falicidade ja conquistei tantas coisas e deichei a felicidade de fora mais agora ta na hora dela entrar na minha vd mais pra isso preciso de vc do meu lado e juntos passa por todas as bareiras vc cuida de mim e eu de vc asim venceremosssssss boa noite dorme com deus e sonhe com migoooooo
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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Tatuagem

por MARINA SALLA*


Caminhei até o pátio e parei ali, no meio da grama. No sol o meu cabelo vermelho ficava ainda mais brilhante, peguei uma mexa e admirei, eu estou satisfeita. Não importa o que falem, eu gostei do resultado. Posso ser branca demais para ter pintado meu cabelo de vermelho, pode não ter ficado parecendo natural, pode chamar muita atenção e não me ajudar já que sofro bullying - mas eu gostei e fim. Não posso deixar que provocações de algumas pessoas mudem meu estilo.

Até que senti o meu ombro ser empurrado com uma força exagerada.

- Olha aí, a esquisitona!

Me virei de repente e os vi, Toby, Giulia e Arco Neil, os três irmãos mais ricos da cidade.

- Ai, pelo amor de Deus, desapareçam – Soltei pra eles, com aquele cansaço de gente imbecil.

O cansaço de sempre.

- Cabelo bonito, Laurinha – Zombou Giulia – Agora só falta ser jogada no fogo, pra combinar.

Antes que eu pudesse responder, Toby empurrou meus ombros e eu dei alguns passos pra trás.

- Parece mesmo uma bruxa.

- E por que vocês se incomodam?

Era uma voz que eu não conhecia, a mão grande que foi posta no meu ombro pertencia a alguém que fez Toby e Arco ficarem brancos. Giulia olhou com desprezo, enquanto eu estava congelada demais pra olhar quem estava ali me defendendo.

- Ela é mesmo uma das ninfas que você gosta, Jack – Ela falou como se cuspisse – Maltrate-a por nós – Finalizou de nariz empinado e foi embora.

Os irmãos atrás.

E eu relaxei de um jeito que tenho a impressão que meus ombros abaixaram uns 10 centímetros.

- Você está bem? – Opa, agora é comigo que está falando!

- Estou, obriga... – Disse enquanto virava meu rosto pra olhar, e quando eu pude ver, paralisei de novo. O garoto tinha o rosto redondo e másculo, olhos escuros, sobrancelhas grossas, cabelos castanhos e ondulados moldando o rosto, longos, lábios vermelhos, pele bronzeada um pouco, e eu o achei lindo.

-...da.

- Desculpe por me intrometer – O cara largou de meu ombro e soltou um resmungo inconformado – São uns imbecis esses irmãos, acho que vou quebrar a cara deles um dia desses.

Enquanto ele falava, meus olhos perambulavam o seu corpo, grande e forte, acho que pratica algum esporte, e algo que me fascinou, quando olhei em seu braço...

... Uma tatuagem.


* Marina Salla Marchiori tem 22 anos, aquariana, morou durante a infância e a adolescência em Itararé, onde cursou Letras Português e Inglês (FAFIT – Faculdades Integradas de Itararé), mas hoje em dia mora em Indaiatuba (SP). Apaixonada por romances acima de qualquer outro gênero, gosta de história que conte do dia a dia, a vida de alguém, principalmente de forma engraçada – por mais que seu livro, apesar de jovem, não seja assim só bonitinho e engraçado. Ser escritora é um sonho para ela, que deseja poder viver disso algum dia, fazendo desse dom e arte sua carreira. Convida os leitores para a sessão de autógrafos de lançamento do romance "Tatuagem" no dia 12 de setembro, sexta-feira, às 20h, no Teatro Municipal Sylvio Machado de Itararé. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

História de Itararé: da emancipação político-administrativa à década de 1930

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

Segundo o “Almanak do Estado de São Paulo” de 1895, em 1893, quando ainda fazia parte da Vila da Faxina (atual Itapeva), a Vila de São Pedro de Itararé tinha “10 mil almas, com 300 eleitores, 100 casas; há mais ou menos um milhão de pés de café; 50 e tantos engenhos de moer canna e em alguns delles fabrica-se aguardente superior; estes engenhos são movidos por animais, sendo um delles de cylindro; machinas de beneficiar café, movidas a vapor, por animais e água”. Continuando a descrição, o texto indica que a cidade  abrigava 6 ruas e 10 travessas. 

Além do plantio de café e cana-de-açúcar, a prestação de serviços era outra atividade fundamental na Vila. Dentre eles, estavam alfaiates, carpinteiros, funileiros, marceneiros, oleiros e pedreiros, além dos comerciantes dos armazéns de secos e molhados, da farmácia e de um hotel. Baseado nestes dados, o professor Péricles Fiuza representou a Vila de São Pedro de Itararé em 1893: 


Dentre os espaços de sociabilidade figuravam os saraus musicais e as missas. As festas religiosas eram outra forma de sociabilidade bastante comum. Destacavam-se a de Nossa Senhora da Conceição, a do Divino Espírito Santo e as festas juninas, principalmente a de São Pedro. 

O município de Itararé foi emancipado no dia 28 de agosto de 1893, por meio da lei 197 promulgada pelo Dr. Bernardino de Campos, presidente do Estado de São Paulo, desmembrando-se do território da Vila da Faxina, e passando a se chamar Vila de São Pedro de Itararé. Em 30 de novembro do mesmo ano foi instalada a Câmara Municipal, sendo eleito como presidente o Coronel Fructuoso Bueno Pimentel e como intendente (prefeito) Brotero de Almeida. 

As primeiras mudanças começaram a surgir na primeira década do século XX. Em 1901, a vila foi elevada à categoria de cidade pela Câmara Municipal passando a chamar-se Itararé, nome indígena que deriva do rio Itararé, que em tupi significa “pedra que o rio cavou”. Em 1902, a primeira obra pública, um mercado localizado onde hoje está o Paço Municipal, foi inaugurada. Em 1907, o intendente passou a ser chamado prefeito. Em 1909, realizou-se a abertura da ligação do trecho da Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande em Itararé. A inauguração teve a presença do presidente Afonso Pena.

A construção da estrada de ferro anunciava o período da chamada “Belle Époque” itarareense. Período de mudanças estruturais no município, acompanhadas de uma mentalidade higienista. Dentre as obras de melhoria no município, destaca-se a instalação da luz elétrica, em 1910, mesmo ano em que começou a circular o jornal “O Itararé”. Em 1911 foram concluídas as obras da Igreja Matriz. A partir de 1912 passou a funcionar o sistema de captação e distribuição de água. Dois anos depois, foi inaugurado o Grupo Escolar Tomé Teixeira, quando também foi inaugurado o Teatro de São Pedro, construído em estilo europeu que contava como biblioteca, salão de baile e de jogos, além de um pavilhão para exibições cinematográficas e teatrais. 


Desta forma, Itararé começou a ganhar “ares urbanos” que trouxeram consigo problemas sociais. Daniel Barreto destaca, a partir da análise da coluna “Notas e factos”, publicada no jornal “O Itararé”, a existência de problemas como a mendicância, a ausência de limpeza pública e de conservação das vias. Partindo de um imaginário higienista, uma das colunas, intitulada “o infeliz”, descrevia a presença de um “miserável” maltrapilho que vagava pelas ruas da cidade e indicava: “por isso apelamos para a autoridade, em nome da moral e em nome da humanidade; não haverá um meio de ser o desgraçado recolhido algum estabelecimento próprio ao seu estado? Hospicio, Asylo de Mendicidade ou o que quer que seja?” 

Em outro texto, Barreto analisa as correspondências trocadas entre chefe da polícia do estado de São Paulo, Pedro Antônio de Oliveira Ribeiro, e o delegado de Itararé, cujo nome não foi possível identificar. Nestas correspondências, são destacados problemas como o surgimento da criminalidade, a precariedade da cadeia municipal e as preocupações com a manutenção da ordem na cidade de Itararé. Na visão do historiador local, a análise das fontes permite afirmar que a “Belle Époque” itarareense não foi “tão bela assim”. 

Na primeira década do século XX, começaram a chegar os imigrantes europeus. Dentre eles, num primeiro momento, estão os italianos, que contribuíram para o desenvolvimento da economia e da cultura local. Além do algodão, o comércio e pequenas fábricas eram as atividades desempenhadas. O maestro José Melillo foi responsável pela organização da Banda Musical Lyra Itarareense. Também fundou o Cine Teatro Central na rua XV de Novembro (atual Caixa Econômica Federal), mais tarde transferido para a rua Newton Prado e rebatizado de Cine Teatro São José. Hércules Peppo Triballi reorganizou o antigo grupo de teatro, nomeado de “Os repentinos”. A partir dos anos 20 o grupo fez grande sucesso. 


Os austríacos chegaram em 1921 e passaram a se dedicar à plantação de amoreiras e ao cultivo do bicho da seda. Com isso, passaram a vender seda para Campinas, sendo muito bem sucedidos nesta atividade comercial. Os armênios e sírios se dedicaram ao comércio de tecidos, armarinhos, calçados e brinquedos. Os alemães trabalharam na lavoura, principalmente com a cana-de-açúcar produzindo água ardente. 

Além das contribuições para a economia e a cultura local, os imigrantes trouxeram consigo a religião protestante. Dentro deste contexto, destaca-se a fundação do Ginásio Rio Branco, com o curso Ginasial, Comercial, Complementar, Primário e a Linha de Tiro 269, em 1929. Porém, este teve breve duração, pois seu diretor, Prof. João Trentino Ziller, era protestante e devido a isto a maioria da população católica preferiu enviar seus filhos para estudar fora de Itararé, o que levou à “falência” do estabelecimento. No mesmo ano, foi inaugurado o Campo de Aviação. 

Em conclusão, podemos observar que após a emancipação político-administrativa, o município de Itararé passou por transformações econômicas, culturais e religiosas, próprias do processo de urbanização. Essas mudanças acarretaram problemas sociais como a pobreza e a criminalidade, que constituíam o cotidiano dos itarareenses nas primeiras décadas do século XX. 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Formalmente lançada a revista Desafinado em Itararé!

Casa cheia ontem no lançamento da revista Desafinado na Câmara Municipal de Itararé. Formalmente apresentado, o novo veículo já está disponível em bancas, padarias e diferentes espaços públicos do município. Interessados em assinar o conteúdo ou anunciar sua marca podem escrever para murilopcleto@gmail.com. Confira as fotos do evento! 


Em agosto de 2012, o blog Desafinado atingiu 2.000 visualizações nas primeiras 24 horas com artigo que explicou a decisão judicial que embargou a Festa do Peão em pleno período eleitoral, desfazendo as principais teorias da conspiração que atingiram o Partido dos Trabalhadores 

O historiador Murilo Cleto é fundador do blog e editor-executivo da versão impressa. Assina 3 artigos na edição de agosto, sobre operações financeiras irregulares na gestão Perúcio, a sistematização do terrorismo nas redes sociais com os pacientes de câncer e um manual didático de Direitos Humanos para o "cidadão de bem"

"A Vaca Gorda e o Aleijado" esmiuçou a sentença judicial que cassou a candidatura do prefeito reeleito César Perúcio e anunciou o que se confirmaria pouco tempo depois: 2ª colocada nas eleições, de acordo com a legislação eleitoral em vigor, Cristina Ghizzi seria diplomada pela justiça

A partir de junho deste ano, o blog Desafinado ganhou nova url e uma equipe renovada de historiadores, geógrafos, chargistas e educadores físicos de Itararé. O resultado da repaginação foi a realização da versão impressa do veículo, lançado ontem na Câmara Municipal.

A versão impressa da revista já pode ser encontrada nas bancas, padarias e espaços públicos do município, com distribuição gratuita nesta edição especial

Doutorando em Educação, Osvaldo Rodrigues Junior assina nada menos que 5 artigos da edição especial impressa. Escreve semanalmente às quintas-feiras no blog.

A fan page do blog e da revista no Facebook é http://facebook.com/DesafinadoBlog

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Lançamento da revista Desafinado é hoje!


Pra reforçar: o lançamento da revista Desafinado acontece hoje na Câmara Municipal de Itararé! Como podem perceber, as impressões já estão prontas e serão apresentadas no evento de logo mais, às 20h30. Confirme sua presença pelo Facebook neste link aqui! Também não deixe de curtir a fan page pra receber todas as atualizações do blog e as novidades envolvendo a revista: http://facebook.com/DesafinadoBlog

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

5 de outubro - Marcus Nascimento

5 de outubro está chegando e, com a data, os principais dilemas das eleições. Nesta série de postagens que se estende até segunda-feira (18 de agosto), os integrantes do Desafinado anunciam o voto para presidência da República e justificam a escolha.





QUANDO NÃO NOS SENTIMOS REPRESENTADOS
Por que nulo?
por MARCUS NASCIMENTO

Quando houve a proposta de escrever em quem votaríamos, confesso que fui pego de surpresa, me senti desorientado e até mesmo pressionado, pois não tinha pensado no meu voto para saber quem será o próximo presidente no quadriênio de 2015 a 2018.

Os governos de Lula e Dilma trouxeram inúmeros avanços para o país, principalmente ao tirar milhões de pessoas da miséria, algo que nunca havia sido feito na história desse país. Porém, a aliança com Paulo Maluf em algumas eleições, por mais pontuais que sejam, me deixou muito temeroso quanto aos caminhos que essas alianças podem levar.

A chapa formada pelo PSB e Marina, que aparece como a terceira força nessas eleições, mostra como a busca por votos e também por projeção falam muito mais alto do que ideias em comum, o que para mim é inconcebível. 

Já o candidato tucano Aécio Neves nunca foi uma opção. A política neoliberal pregada por seu partido já nos custou muito caro nos governos de FHC. Além dos casos nebulosos que envolveram seu governo em Minas Gerais, como o aeroporto na cidade de Cláudio.

A única pessoa que consegui flertar com as propostas foi com Luciana Genro do PSOL. No entanto, a grande dificuldade em escolher um candidato para o pleito mostrou que o partido não está muito afinado no seu projeto de governar o país.

Analisar as propostas e separar os fatos dos boatos não foram o suficiente para que pudesse realizar uma escolha. Nenhum projeto dos candidatos e de seus respectivos partidos reuniu o que eu realmente desejo para o país. Por esses motivos, votarei nulo.

O voto nulo nesse sentido não é uma abstenção, e sim uma insatisfação com os candidatos. Cunha e Amaral afirmam que por meio do voto nulo:

“(...) o cidadão expressa sua condenação às limitações do pleito. O voto em branco é de quem cala; o voto nulo é de quem fala, protestando. Daquele que, particularmente nas rodadas de segundo turno, não se vê contemplado pelas candidaturas em disputa. (AMARAL, Roberto; CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Manual das Eleições. 4ª edição – São Paulo: Saraiva, 2010. p. 89).

Muitos podem condenar o voto nulo por considerar o voto a uma legenda como um instrumento fundamental para a construção de um Brasil melhor, mas como diz o clichê ser cidadão não se resume apenas em votar. A participação pública nas causas de interesse é tão importante quanto o voto.

O triste é constatar que as pessoas só se atentam em digitar e discutir sobre o número, o qual acham que vai "salvar" o futuro e logo depois se acomodam em seus seguros lares, comem sua ração, assistem televisão e política só daqui quatro anos. A esperança dedicada exclusivamente ao voto consiste na dose de alienação injetada na veia da população, que prefere o voto do que sair as ruas cobrando, protestando e revolucionando. 

Obs: A história de que se mais de 50% dos votos forem nulos a eleição seria cancelada é uma das grandes mentiras que circulam pela internet.

Abraços,
Marcus.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

5 de outubro - Janaína de Oliveira

5 de outubro está chegando e, com a data, os principais dilemas das eleições. Nesta série de postagens que se estende até segunda-feira (18 de agosto), os integrantes do Desafinado anunciam o voto para presidência da República e justificam a escolha.




Por que Dilma Rousseff?

por JANAÍNA MAYRA DE OLIVEIRA WEBER

É a primeira vez que chego a uma eleição mais com a certeza de quem EM NÃO votar antes de decidir em quem votar. Nas últimas duas eleições presidenciais, as coisas pareciam mais objetivas e eu conjugava mais facilmente as ideias de quem havia escolhido. Lula, depois Heloísa Helena e Marina Silva, respectivamente, e Lula e Dilma no segundo turno, também respectivamente. 

Eu acredito já há certo tempo, em outro(s) tipo(s) de organização(ões) social(is), e sempre procurei votar em quem se apresentava (e se apresenta), ao menos, alternativo ao que já temos, e esses quatro, cada qual em seu momento, me apresentaram uma dessas perspectivas. 

Os três primeiros possuem trajetórias de vida pessoal de situações de privação com a mesma origem antropológica – das zonas mais pobres do interior do Brasil, onde a sociedade urbana moderna vê floresta ou nada no desenho do mapa. E Dilma, pertencendo a família relativamente abastada deixou o conforto pra viver a luta pela democracia enfrentando além de uma ideia de estado um inimigo que faz sucumbir muitos homens, a tortura. 

Cada um deles construiu e constrói sua trajetória de luta política de maneira singular e partiram para prismas diferentes para se encarar o mesmo problema, com várias aproximações e afastamentos ideológicos e atitudinais, mas as posições estão bem demarcadas. 

Dessa vez, tentei fazer um “estado da arte” inferindo a visão de cada candidato sobre a educação, a partir de como seus partidos tratam a questão em algumas instâncias observadas na minha trajetória pessoal. 

Nesse exato momento, acredito que todos os nossos candidatos atuais se preocupam muito mais com sua retórica para convencer o mercado, de que são confiáveis que no Plano Nacional da Educação e suas implicações – e isso explica muitas das várias alianças bizarras que a gente vê todo ano –, mas a relação com a educação, quem está na vida pública não tem como não se manifestar, tanto no pensar quanto no fazer. 

Eu era estudante do 2º ano da graduação em 2001, penúltimo ano da era FHC, ou seja, não entrei na faculdade pública pelas cotas, mas se tivesse, certamente eu faria uso do sistema. Mas foi nesse ano que aconteceu uma das maiores greves de instituições de ensino superior registrada, de 59 universidades e escolas técnicas federais 52 pararam e o movimento deflagrado inicialmente por professores e alunos rapidamente ganhou adesão e força por parte também dos servidores. 

Universidades Estaduais apoiaram e associaram à grande pauta que era reajuste salarial de 14,2%, votação da PEC 370 sobre o Art.207 (que dispõe sobre a autonomia universitária), melhoria das condições de trabalho com reposição de efetivo/pessoal, déficit de 8,5mil funcionários; com suas reivindicações locais. 

Lembro muito da tônica dos debates, encontros, manifestações e assembleias: “Contra o desmonte e sucateamento da Universidade Publica”, processo que vinha acontecendo por toda década de 1990, através de tantos fatores (superlotação, diminuição de repasses para custeio e manutenção, precarização do trabalho docente pela contratação temporária e defasagens salariais) que o tema merece um texto próprio. 

A mídia fez o seu papel de sempre, que é marginalizar os grevistas, usando “reajuste” e “aumento” como sinônimos, muitas vezes até trocando esses conceitos de propósito, enfatizando o “prejuízo social acadêmico” que a greve estava acarretando aos alunos atrasando suas colações de grau. 

A preocupação deles era de “quando” iriam colar grau, e não “como”. 

O “como” aqueles estudantes estavam obtendo sua graduação, em salas superlotadas e professores estressados na tensão entre o publicar (produzir) e lecionar sem muita autonomia na distribuição do próprio tempo produtivo. Isso sem mencionar a falta de material e incentivo às pesquisas sociais. 

O que aconteceu foi o óbvio, empurrou-se a universidade publica pra prostituição, onde pesquisas com interesse privado acabam tendo mais aceitação e fomento/financiamento, basta ver quantos artigos são produzidos sobre transgênicos e quantos são produzidos sobre agricultura familiar, produção orgânica, o custo de cada tipo de pesquisa, isso, além dos seus objetivos. 

Ou seja, se no começo do século XX as universidades definiam o mercado, agora trabalhavam pra ele e em função dele. Junte-se a isso, a proliferação de instituições privadas de ensino, sem parâmetros a pretexto da necessidade de expansão do ensino superior. Da função de gerar o bem estar da humanidade a universidade, passa a função de gerar o lucro de alguém, e o capitalismo mata um dos principais ícones do iluminismo. 

Cada negociação deixava sempre um tom de humilhação, mas a greve então acabou com o ex-ministro Paulo Renato (in memorian), concedendo um reajuste entre 12% e 13% para os professores, o que passaria a vigorar a partir de fevereiro de 2002, que até lá seriam 10%, além do aumento de 3,5% concedido aos servidores. Quanto ao déficit de funcionários, dos 8,5 mil, o ministério de planejamento autoriza a abertura de processos para a contratação de só 2,2 mil funcionários, desconversando uma das principais propostas negociadas para o fim da greve, ou seja, sem palavra. 

O descalabro piora quando se dá de cara com ideias privatistas das universidades públicas, quando entendo que o governo tem que regular mais e melhor as particulares. 

Teve também uma ocasião em que FHC afirmou em um discurso que “professor é o pesquisador que não consegue se firmar na universidade”, como se aquele pesquisador que não se afirmava no cenário acadêmico virava professor pela falta e capacidade de fazer uma boa pesquisa e como se isso fosse hierarquicamente superior. Isso, além de colocar o presidente na maior saia justa entre seus pares (afinal ele mesmo era professor de uma instituição de ensino superior), também rendeu muitos pedidos de desculpas e uma contribuição para a inútil visão de que pesquisa não faz parte da atividade docente. Por mais que eu reconheça alguns avanços em seu governo – da direita FHC foi o “menos pior” e nesse caso não por causa dele e sim pelo seu partido, que sempre agiu como “novo rico” e tenta atribuir isso ao PT. 

Em um texto recente, Reinaldo de Azevedo, um dos oficiais do exército de haters, no tremendo esforço de sempre em achincalhar Lula, acusa o ex-presidente de proselitismo político quando ao receber o título honoris causa da Universidade Federal do ABC, que o governo psdbista não quis abrir, ele apenas lembrou que um deputado petista apresentou a proposta da criação da mesma universidade que, apesar de aprovada em assembleia, foi sistematicamente ignorada e engavetada por décadas pelo governo, tanto na esfera estadual quanto nacional. Não menos que a patifaria de não abrir uma universidade é usar o argumento de que São Paulo já tinha quatro grandes universidades, desprezando só o mais importante, que é a demanda. O fato de se ter 3 grandes universidades e as mesmas fazerem parte do ranking mundial de qualidade não justifica deixar mais de meio milhão de jovens de fora da universidade, pois entendo que graduação deve ser um direito e não privilégio independentemente do indivíduo exercer a referida atividade que se propõe estudar. 

Se pelo menos a justificativa tangente fosse a interiorização, mas isso só foi acontecer mesmo no governo Lula e foi elevado ao quadrado com Dilma, quando o governo FHC chegou a fechar escolas técnicas, passando a bola da educação profissional às próprias empresas e as instituições do complexo “S”. 

Fiz parte do movimento estudantil e participei da greve, mesmo quando muitos dos estudantes votaram em assembleia para aderir a greve e depois foram pra casa “ficar de férias prolongadas”, fiquei nas mobilizações com outros poucos colegas, mas professores e funcionários e tive oportunidade de aprender (e muito) ao presenciar e participar de debates sérios em torno da maior frase feita de efeito na atualidade: a busca de uma educação de qualidade. 

Diante disso, o que vivi e vi sobre educação vinda do PSDB foi que seu projeto de educação fracassou, ou que eles têm uma concepção de qualidade que eu considero problemática e nociva. Ou vamos fazer de conta que a educação não tem nada a ver com o processo de desumanização em meio o qual nos encontramos? Ela pode não ser a responsável, mas lembremos que a escola tem o maior poder condicionante depois da família. 

Eu gostava de ver e ter alternativas contra o “deus mercado”, mas percebi a bola rola no Brasil de uma forma que, mais cedo ou mais tarde, há um tipo de aperto de ninguém recusa, quem recusou não está vivo pra contar, e mesmo podendo se ter motivos justos por baixo deles, isso jamais fica evidente, de forma que mesmo vencendo eticamente internamente, perde-se moralmente para a ideologia vigente só pela mensagem emanada. 

Eu entendo perfeitamente o por que Lula apertou a mão de Sarney e deu uns tapinhas nas costas de Maluf, também sei da real dimensão do mensalão e fica um gosto amargo de decepção com esse gesto, pois toda (falta) educação que lhe é atribuída lhe permitiria um soco na cara para cada um deles. 

Mas mesmo assim, sucumbindo às elites ou não, fazendo a linha “esquerda que a direita adora” ou não, é inegável o marco da chegada ao poder, de uma força de origem ideológica socialista pelo meio democrático, de um dos países mais promissores da atualidade e como não considerar a erradicação da fome, que durava toda a vida de Brasil o maior feito da História da atualidade, quando vários países africanos enfrentar o mesmo problema há séculos?

Mas para entender isso como um feito de fato é preciso que se separe a fome da miséria e da pobreza, mesmo que elas andem bem juntas na maioria das vezes. A fome é uma privação de uma necessidade básica para a sobrevivência. Não se faz nada com fome, morre. Nos anos 1990 Betinho começa sua campanha contra a fome, e naquela época o cenário era de mais de 9 milhões de FAMÍLIAS inteiras em situação de fome e miséria, chegando a mais de 50% de toda população do nordeste. Então, independente de muita coisa o PT merece todo meu respeito, pois preparou o terreno para a mais necessária revolução que a humanidade está prestes a viver e construir, a revolução cultural pós-tecnológica. 

Marina levava meu voto até fazer o mesmo que Lula, apertar a mão de inimigos históricos pois pela bancada de Eduardo Campos. O Sr. Maggi passeia com mais tranquilidade e familiaridade que ela mesma. Gosto da linha de ação do PSOL, mas acho que a Luciana Genro pode amadurecer mais politicamente nos próximos quatro anos e explorar mais as mobilizações sociais que surgirão com a lei da participação civil e as novas formas de mídia, coisa que a Marina também poderia ter feito. Acho difícil o PSB deixar que ela ascenda ao posto e, se deixar, pelas posturas é possível que ela não tenha muito espaço, e por mais que esteja disposta a fazer certas concessões como Lula fez, também não acho que ela aceite o papel de vaca de presépio. 

Até aqui, então vou de Dilma, pois o desdobramento das políticas sociais começam a atingir um outro estágio de evolução. Quem fala mal do Programa Bolsa Família, se referindo a ele como “bolsa vagabundo”, despreza que 93% das famílias beneficiadas pelo programa são chefiadas por mulheres. E dessas, 68% são negras e hoje além de receberem a complementação da renda tirma a preocupação da fome do lugar central da vida, essa preocupação com as oficinas de inserção produtiva e começa o caminho inverso, a procura pela escola. 

Dilma levará meu voto também porque transformou os currais em casas própria com um carrinho à prestação e móveis com IPI reduzido, pra classe C morar com dignidade e passar a se preocupar com uma possível formação do filho. 

E finalmente levará meu voto por se dispor a tentar tornar a educação um direito básico de fato e não um privilégio, já que nem Lula teve “culhões” pra dar cabo com a discussão dos investimentos a serem destinados a educação e sancionar o Plano Nacional de Educação, que, de 2011, foi só agora homologado. Depois da Copa, as eleições prometem mais emoções que a novela das 8.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

5 de outubro - Osvaldo Rodrigues Junior

5 de outubro está chegando e, com a data, os principais dilemas das eleições. Nesta série de postagens que se estende até segunda-feira (18 de agosto), os integrantes do Desafinado anunciam o voto para presidência da República e justificam a escolha.




POR MAIS DIREITOS!
Por que Luciana Genro?
por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

As Jornadas de Junho de 2013 deixaram no mínimo uma "lição": a de que apesar dos inegáveis avanços nas políticas sociais nos 12 anos de governo do Partido dos Trabalhadores - PT -, principalmente no que se refere aos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, “o aumento de renda, que possibilita o crescimento do consumo, não 'resolve' nem o problema de urbanidade, nem a precariedade dos serviços públicos de educação e saúde, muito menos a inexistência total de sistemas integrados eficientes e acessíveis de transporte ou a enorme fragmentação representada pela dualidade da nossa condição urbana (favela versus asfalto, legal versus ilegal, permanente versus provisório)”, conforme Raquel Rolnik. 

Dentro deste contexto, e da opção pelos partidos de esquerda, como foi nos votos em José Maria do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados - PSTU - em 2002, Heloisa Helena do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL -, em 2006, e Plínio de Arruda Sampaio do mesmo partido, em 2010, eu voto em Luciana Genro, candidata pelo mesmo PSOL para o pleito de 2014. Justifico a escolha por duas motivações principais: a história de lutas da candidata e a plataforma de governo de esquerda independente, que apresenta uma alternativa à polarização político-partidária que assola o Brasil desde 1994. 

A história de lutas e o envolvimento com a política começaram cedo. Aos 14 anos Luciana já participava do movimento estudantil no Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Em 1994 foi eleita deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores para ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Neste mandato, começou a trajetória de denúncia dos casos de corrupção, como o caso CORSAN - Companhia de Saneamento do Estado do Rio Grande do Sul -, confirmado anos depois. 

Reeleita em 1998, pelo mesmo PT, Luciana agora tinha ao seu lado o governador Olívio Dutra. Foi aqui que começaram as "desavenças" ideológicas com o partido. Houve uma greve dos professores organizada pelo sindicato da classe e foi enviada uma pauta reivindicatória para a Assembleia Legislativa. Olívio Dutra determinou que a bancada petista votasse contra o projeto. Luciana se negou e votou a favor. Resultado, foi punida. 

Em 2002, Luis Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República pelo PT. Lula colocou Henrique Meirelles, do Bank of Boston e deputado federal eleito pelo PSDB, no Banco Central; ainda o PT apoiou José Sarney para presidência do Senado, gerando descontentamento das alas mais "combativas" do partido, incluindo Luciana. Em 2003, o governo encaminhou a proposta de Reforma da Previdência, que retirou direitos dos trabalhadores, para o Congresso Nacional. Babá, Heloísa Helena, Luciana Genro e João Fontes votaram contra e foram expulsos do PT. 

Neste contexto começou a ser gestado o Partido Socialismo e Liberdade - PSOL -, fundado oficialmente em 2005. Em 2006, Luciana foi eleita deputada federal pelo PSOL, quando então apresentou projetos de lei e participou de discussões importantes. O projeto para que bancos paguem os impostos sobre operações de leasing no local onde estão instalados e não onde está sua matriz está aprovado esperando sanção do Senado. Outro e, talvez, o mais importante PL apresentado por Luciana, é o que regulamenta os impostos sobre grandes fortunas, aprovado pelas comissões de Constituição e Justiça da Câmara e aguardando também a sanção do Senado. Desta forma, evidenciamos que a história de Luciana Genro rompe com a prática discursiva de luta contra a corrupção e em favor do trabalhador. 

O programa de governo do PSOL está em construção e aceita, de maneira democrática, sugestões pelo site. Contudo, existe um texto disponível no mesmo site da candidatura que apresenta as diretrizes para o programa de governo do PSOL. As diretrizes estão divididas em três eixos: eixo 1 - Política econômica e modelo de desenvolvimento; eixo 2 - Sistema político e democracia; eixo 3 - Mais e melhores direitos. Sugiro a leitura atenta de todos, porém pretendo apresentar os elementos fundamentais contidos nestas diretrizes. 

Em relação à política econômica destacam-se dois elementos fundamentais: a auditoria da dívida pública e a taxação das grandes fortunas. A dívida pública, principalmente a interna, que chegou a R$ 2,2 trilhões de reais em 2013, consumiu apenas em amortização de juros R$ 1 trilhão de reais em apenas cinco anos. A auditoria possibilitaria a revisão da dívida e a redução do pagamento de amortização de juros. Para todos aqueles que devem estar pensando: "ah, mas isto é impossível", eu afirmo: não é não! O Equador é o exemplo de que é possível. Em 2007, o presidente Rafael Correa iniciou o processo de auditoria da dívida pública que levou à amortização de 70% do valor total da dívida. Se, hipoteticamente, o Brasil fizesse o mesmo e obtivesse os mesmos 70%, passaríamos de uma dívida de R$ 2,2 trilhões de reais para uma dívida de R$ 660 milhões de reais. Por que nenhum governo ainda realizou isto? Porque todos estão submetidos ao capital financeiro recebendo doações suntuosas para as suas campanhas. 

Os combates à concentração de renda e à desigualdade também merecem destaque no eixo 1. A primeira medida será modificar a estrutura tributária do país, taxando as grandes fortunas. Tal medida está prevista na Constituição Federal de 1988 na Seção III, "Dos impostos da União", que no artigo 153 capítulo VII prevê que a União deve instituir impostos sobre "grandes fortunas, nos termos de lei complementar". Desta forma, Luciana Genro propôs um projeto, atualmente em trâmite no Congresso Nacional, que estipula uma alíquota de 0,5% anual sobre fortunas acima de R$ 3 milhões, estando disposta a discutir com os parlamentares a possibilidade da aplicação de uma alíquota de 5% sobre fortunas que ultrapassem a casa dos 50 milhões. 

No item 2, as diretrizes indicam que as Jornadas de Junho 2013 demonstraram a crise da democracia representativa no Brasil. Por conta disso, o PSOL se propõe a criar mecanismo de democracia direta como a revogabilidade dos mandatos políticos por meio de plebiscitos e consultas populares. Propõe-se uma Reforma Política que desvincule o poderio econômico dos processos eleitorais, por meio principalmente da aprovação do financiamento público das campanhas. A concepção de "governabilidade" que promove o fisiologismo também é atacada no texto das diretrizes. O PSOL propõe como solução a este problema a pressão popular como forma de mobilizar os parlamentares a aprovarem os projetos de lei de interesse da população. 

Já no item 3 das diretrizes, o texto apresenta os problemas da mobilidade urbana e moradia, que motivaram as Jornadas de Junho. Para estes, é proposta a tarifa zero subsidiada pelos recursos destinados ao superávit primário; e a desvinculação das grandes empreiteiras do programa "Minha casa, minha vida", tomando para o Estado e para as organizações interessadas a execução das obras. O combate à especulação imobiliária por meio do IPTU progressivo e da lei do inquilinato também são temas da pauta. A Reforma Agrária, atualmente estagnada, é outra demanda do programa de governo do PSOL. 

Ademais, dos direitos à mobilidade urbana, moradia e acesso à terra, o que difere Luciana Genro dos demais candidatos é a sua postura firme e objetiva com relação a alguns Direitos Humanos fundamentais. Dentre eles, o combate à homofobia, ao racismo e ao sexismo estão na agenda do PSOL. Outros elementos importantes da política de Direitos Humanos do partido são: a legalização do aborto, evitando mais mortes por intervenções realizadas de maneira inadequada e a descriminalização da maconha, acabando com a "guerra as drogas" que na verdade tem demonstrado ser uma verdadeira "guerra aos pobres". Os dois temas, inclusive, foram pauta de uma matéria divulgada no portal UOL

Outro elemento fundamental da proposta de Direitos Humanos do PSOL é a desmilitarização da polícia militar e unificação de todas as polícias, acompanhada da valorização desses profissionais. A desmilitarização da polícia militar, proposta pela Organização das Nações Unidas - ONU - e rejeitada pelo governo brasileiro, mantém a polícia brasileira entre as mais letais do mundo, com impressionante número de cinco mortos por dia. É importante ressaltar ainda que, assim como na "guerra contra as drogas", o extermínio policial promove uma verdadeira "guerra à periferia". 

Muitas das propostas de Luciana Genro a princípio podem gerar desconfiança quanto à sua aplicabilidade, afinal sabemos das dificuldades caso o partido alcance a presidência da República. No entanto, pela história de lutas sociais em favor dos trabalhadores e pelo programa de governo independente e efetivo na implementação e garantia de mais direitos, no dia 05 de outubro eu votarei 50, eu votarei Luciana Genro. 

Abraços, 
Osvaldo. 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

5 de outubro - Israel Castilho

5 de outubro está chegando e, com a data, os principais dilemas das eleições. Nesta série de postagens que se estende até segunda-feira (18 de agosto), os integrantes do Desafinado anunciam o voto para presidência da República e justificam a escolha.



CANDIDATOS ATRAENTES
por ISRAEL CASTILHO


terça-feira, 12 de agosto de 2014

5 de outubro - Luis Felipe Genaro

5 de outubro está chegando e, com a data, os principais dilemas das eleições. Nesta série de postagens que se estende até segunda-feira (18 de agosto), os integrantes do Desafinado anunciam o voto para presidência da República e justificam a escolha.



O BRASIL QUE TEMOS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS
Por que Luciana Genro?
por LUIS FELIPE GENARO

É consenso entre cientistas sociais das mais diversas ramificações que presenciamos nas manifestações e protestos do ano passado – as chamadas Jornadas de Junho – um abalo significativo nas estruturas do país. Talvez, na mais sintética das análises, essa geração que não pôde lutar contra os gorilas da ditadura, teve a chance de mostrar aos súditos do capital que não age, fala e pensa somente via Facebook e outras redes sociais. 

Praças, ruas e avenidas foram tomadas ora de forma pacifica, ora de forma violenta. Cartazes com as mais diversas frases e anseios foram erguidos. A imprensa nativa, atemorizada, ora pôs-se ao lado dos manifestantes, ora contra. No Congresso Nacional e no Palácio do Planalto, uma pressão há tempos não sentida. 

De fato, a classe dirigente como um todo – ou, como diria Raymundo Faoro, os "donos do poder" –, por alguns poucos dias, não dormiu sossegada. Os pequenos acontecimentos que marcaram aqueles dias de agitação serão lidos pela História de forma mais acurada em alguns poucos anos. “A vida que pulsava transbordou, e o dique da ideologia não foi capaz de contê-la”, relembra Mauro Iasi. 

Durante as Jornadas, inúmeras questões foram surgindo e assuntos, outrora relegados apenas a alguns poucos espaços e sujeitos, começaram a ser debatidos com maior ênfase até mesmo nas calçadas dos grandes centros. Aulas públicas passaram a ser então uma realidade agora com uma maior visibilidade. Por que não discutir a democratização das mídias em praça pública? Por que não debater os benefícios da descriminalização da maconha e a derrocada da “guerra às drogas” em avenidas lotadas? Neste ínterim, greves foram deflagradas e o calor da manifestação, principalmente com o advento da Copa do Mundo, permaneceu uma constante. 

Sem sombra de dúvidas, a democracia representativa brasileira – e, por que não, a ocidental – vem sofrendo reveses e abalos nunca antes imaginados, inerte em uma esteira de crises sem um fim determinado. Nossa democracia vem sendo duramente criticada por ter se tornado um sistema extremamente limitado, pois somos levados de quatro em quatro anos a eleger governantes e parlamentares que, muitas vezes, nem sequer os conhecemos. Sem contar as façanhas da esfera financeira que há tempos vem impondo suas vontades à esfera política. No fim, vivemos uma plutocracia de democratas, um governo que em tese deveria ser guiado pelo povo, passa a ser dirigido por técnicos, banqueiros e burocratas. 

A esquerda brasileira, durante anos, lutou para que um dos maiores partidos de massa do continente americano, o Partido dos Trabalhadores (PT), chegasse aos degraus mais altos do poder. Chegando lá, desmantelaria toda uma estrutura de Estado envolvida por corruptos e corruptores, iniciando um processo de mudanças jamais vista antes. A revolução, de fato, não aconteceu. Deixando de ser o agitador revolucionário, o Partido dos Trabalhadores passou a ser o reformador conivente. 

Mauro Iasi acusa: “O caminho escolhido pelo ciclo do PT e sua estratégia, desarmou a classe trabalhadora e sacrificou sua independência pela escolha de uma governabilidade de cúpula na qual a ação política organizada da classe jamais foi convocada [...]. O acordo com a burguesia produziu na base social uma reversão na consciência de classe e uma inflexão conservadora no senso comum”. 

Muitos conhecidos contra argumentam que, caso o partido não tivesse se aliado aos donos do poder, tornando-se efetivamente um deles, algumas das reformas sociais planejadas nunca teriam sido implantadas de forma efetiva. É sabido que as marcas dos governos petistas são, de fato, o início da descentralização de renda e a possibilidade de crédito e mobilidade aos mais pobres. 

É espantoso que, nos dias de hoje, o Partido dos Trabalhadores venha ratificar a ideia perversa da classe estabilizante, difundida principalmente pelo intelectual esloveno Slavoj Žižek, a qual ele explica: “não é [em si] a velha classe dominante, mas aqueles comprometidos com a estabilidade e continuidade da ordem política e econômica – a classe daqueles que, mesmo quando clamam por mudança, o fazem para assegurar que nada realmente vá mudar”. Angustiado e consciente, lhes indago: e agora? 

Tendo em vista todas as questões que apontei, sou levado a concluir que desacredito na política como está sendo gerida e nas eleições como estão sendo gestadas. Finalmente expresso uma ojeriza implacável pela democracia racionada e furtada pela qual vivemos. Por outro lado, a presidenciável Luciana Genro, advogada, ativista e candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – fundado por aqueles que se insurgiram contra o Partido dos Trabalhadores logo no início do governo Lula –, tem em suas discussões e debates diários, escutado as vozes que ecoaram durante as Jornadas de Junho e que ecoam até os dias de hoje. 

À frente de temas polêmicos e de máxima urgência ao país, Luciana tem se colocado contrária aos projetos de governo lavados na mesmice, na ânsia por votos e holofotes e no espetáculo das grandes fortunas destinadas a campanhas e propaganda. Imersa neste novo tempo do mundo, nos novos e velhos movimentos sociais e ciente dos obstáculos impostos pelo capitalismo, pela globalização e por uma estrutura de Estado ainda imbuída em arcaicos estamentos, Luciana Genro mostra-se preparada para governar o Brasil. 

Contudo, não acredito que sozinha possa governar qualquer coisa. E quando digo “sozinha”, não me refiro aos céus escuros da governabilidade. Refiro-me ao povo brasileiro. Às universidades, à nova intelectualidade, às mídias independentes, aos comitês, associações de bairro, pequenos produtores rurais, tribos indígenas, aos movimentos sem-terra e sem-teto, aos professores, garis, domésticas, operários, zeladores e, não menos importante, aos jovens que foram às ruas em julho de 2013. 

Os verdadeiros e legítimos donos do poder. 

Referências

IASI, Mauro Luis. A rebelião, a cidade e a consciência. 2013. 

ŽIŽEK, Slavoj. Quando apenas a heresia pode nos manter vivos. In: http://blogdaboitempo.com.br/2012/11/23/artigo-de-slavoj-zizek-sobre-a-reeleicao-de-barack-obama/. 2012.