sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Crises, colapsos e revoluções

por LUIS FELIPE MACHADO DE GENARO



Crise. Hoje, talvez, seja essa a palavra que mais nos inculquem através da grande mídia. Crise na Petrobrás, crise econômica, crise de representação, crise nas escolas, entre tantas outras crises Brasil a fora – que dirá no restante do mundo. Estaria a mídia inculcando, transmitindo ou potencializando uma conjuntura realmente crítica? Ninguém sabe ao certo. 

Afinal, estaríamos à beira de um colapso generalizado? Caso a resposta seja categoricamente “sim”, quais seriam as soluções para tamanho banho de incertezas? Certa vez, o ilustre intelectual alemão Walter Benjamin alertou: “a consciência desesperadamente lúcida de estar em meio a uma crise decisiva é crônica na história da humanidade”. Estaria ele correto? 

O Brasil, nas últimas semanas, vem parecendo um caldeirão fervente prestes a explodir. E não é para menos. Contra o “pacote de maldades” do governador Beto Richa, por exemplo, a categoria de professores iniciou uma das mais belas mobilizações do Paraná. Estado sulista com fama – e que fama! – de ser bastante conservador. 

Em Santa Catarina e outras regiões, a greve dos caminhoneiros param estradas e rodovias. Sejam quais forem as ações e reações do movimento, ele está acontecendo. Em São Paulo, a falta d'água parece, aos poucos, incomodar uma população que há décadas escolhe o masoquismo como fetiche eleitoral. Certo é que faltará água para uns, e não para outros. Nem vou começar a falar do avanço das ideias fascistas ou da situação das favelas, como da Maré, em constante pé de guerra, dos camponeses em Rondônia e das diversas tribos indígenas no Mato Grosso. Caos, apenas. 

O governo federal, do Partido dos Trabalhadores, não fica para trás. Através do “ministro dos banqueiros”, Joaquim Levy, Dilma Rousseff escolheu apunhalar fundo nas classes média e baixa, pegando leve com os endinheirados. As medidas fiscais tomadas pelo Palácio do Planalto, segundo Carta Capital, começarão a dificultar “o acesso ao seguro-desemprego, ao abono salarial, à pensão por morte, ao auxílio-doença e ao seguro-defeso pago aos pescadores no período de proibição da sua atividade”. Enquanto Veja dobrava os joelhos pela escolha da presidente, Carta a rechaçava. Incômodo. 

Sem dúvida alguma estamos em crise. Sim, estamos mesmo. A crise das crises, diria. Generalizando – o que muitas vezes pode ser um grave problema –, a classe política brasileira dá de ombros para seus representados. Eduardo Cunha, então, mostra sua bunda branquinha e promove cultos evangélicos estrondosos na Casa (Laica?) do Povo. Festança boa é o que não falta. 

O capital financeiro parece ter sugado entranha por entranha de cada membro do Senado, Câmara de Deputados e Legislativos e Executivos a fora. Sujeitos e partidos políticos pequenos, mas combativos, parecem sumir perante o oceano das bancadas, empresas, corruptos e corruptores. Sublinhemos: tamanha desfaçatez não é como almejam muitos, invenção recente de PT, PSDB, DEM e outros tantos. Parafraseando nosso saudoso Darcy Ribeiro, a crise no Brasil não é uma crise, é um projeto. 

O país foi fundado – leia-se colonizado brutalmente – com base na exploração, na violência de poucos contra muitos, na manutenção de privilégios para uns e migalhas para o resto. Tentativas de rompimento com o que foi construído através dos séculos não faltaram. Hoje, percebemos que essas mesmas estruturas parecem de difícil desmonte. Darcy, então exilado no Uruguai, escreveria esperançoso: “Velhas questões institucionais, não tendo sido resolvidas nem superadas, continuam sendo os principais fatores de atraso e, ao mesmo tempo, os principais motores da revolução social”. Ministra Abreu e sem-terras, assim mesmo, nessa ordem, que o digam. 

Há quem, no momento de crise, permaneça crente aos “heróis” do passado, às tradições nacionais e ao sectarismo violento. Tudo, como reza a bandeira verde e amarela, para manter a ordem e o progresso. Traduzindo: permanecem de mãos dadas com os poderosos de sempre. O fluir disso tudo desemboca em “protestos” nas ruas ao som do hino nacional, contra as estrelas e ideais vermelhos. “Vão pra Cuba”, bradam as senhorinhas. 

Por outro lado – o que é lamentável – a tão sonhada revolução social permanece apenas nos sonhos de um e outro socialista convicto. Aos menos é o que se observa. Por favor, não me comentem aqui no blog sobre a construção de um Estado Socialista-Cubano-Bolchevique-Lulista-Brasileiro. Ah, e aos que não estão sabendo que o Muro de Berlim desabou em meados de 90’, bom... 

Sim, uma revolução social consciente, violenta e mobilizadora para que, finalmente, viremos o jogo. Essa é a ideia. Movamos as peças deste tabuleiro arcaico. Já não podemos aceitar um abismo social, racial e econômico tão natural aos olhos. E se o assunto é a crise das crises, finalizo com a constatação fulminante de Rob Riemen: “a classe dominante nunca será capaz de superar a crise. Ela é a crise!”. Só uma coisa parece estar certa: precisamos enfim superá-la. Como? Precisaremos redescobrir. 

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