terça-feira, 28 de abril de 2015

Os Gladiadores do Altar

Tropa de Elite de Cristo ou Escravos da Idealização?

por LUCAS SANTOS


“Esses gladiadores vão nos ajudar a entrar no inferno e ganhar almas. O altar não é para criança, menino ou para quem quer brincadeira. É para quem quer lutar pelo povo, e se preciso dar a vida por ele”. (Trecho transcrito da apresentação dos gladiadores em Fortaleza por Miguel Martins – Carta Capital)



Deparamo-nos, nos últimos meses, com mais um episódio do amor cristão, expresso na arregimentação dos jovens fiéis da neopentecostal Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) para a formação do grupo denominado “Gladiadores do Altar”.

O grupo, constituído por jovens de 12 a 26 anos que recebem um treinamento específico baseado nos ideais de disciplina militarista, visa, segundo nota publicada no site oficial da IURD, a “formação de jovens vocacionados para a propagação da fé cristã.”



Vários vídeos foram ao ar no canal da IURD no You Tube e mostram os jovens entrando marchando em fila, como um destacamento militar mesmo, utilizando roupas camufladas ou em tom de oliva com estampas onde se vê uma espada e um escudo com as iniciais G. A., em referência ao nome adotado pelo grupo. 

Após a apresentação dos grupos – eles acontecem em vários estados brasileiros e em algumas filiais argentinas da igreja – pelos pastores e seu treinador os jovens batem continência aos gritos de “O ALTAR! O ALTAR! O ALTAR!” com o braço direito estendido em um ângulo de 45º.

O antropólogo brasileiro Ronaldo de Almeida ao comentar sobre o caso lembra que a tradição militarismo/religião é prática constante no Brasil e aponta os grupos da Tropa de Louvor, ligada ao BOPE – Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar – e os PM’s de Cristo como manifestações desse ideário, demonstrando, então o contexto propício para a idealização desse tipo de movimento.

Já o diretor da Faculdade de Teologia da PUC – SP, Pd. Valeriano Costa diz que a ideia de militarização para profecia da fé já demonstrou sua ineficácia em vários casos e vai, inclusive, contra a ideologia religiosa que entende a luta como pertencente não aos homens, mas ao Cristo que está por ressuscitar.


Ambos entendem, no entanto, a prática como parte da valorização à estética das ações muito presente na instituição, que pode ser notada, entre outros episódios, como a construção do Templo de Salomão ou a adoção de encenações religiosas que simulam ritos judaicos, possibilitando, assim, sua compreensão como uma estratégia comercial.

Em nota dirigida à redação de O Povo a assessoria de imprensa da IURD diz que a aparição do grupo nos vídeos ocorreu em “eventos únicos, com coreografia ensaiada para marcar festivamente a ocasião. Desde então, em cada localidade, tais eventos não se repetiram mais e nem se repetirão."

A iniciativa não tem agradado, porém, grupos religiosos distantes dos ideais neopentecostais, principalmente os de matriz afro-brasileira, visto que estes são constantemente perseguidos por universalistas e outras classes evangélicas, por serem considerados infiéis ou adoradores do demônio.

Perante o quadro crescente de radicalização em diversos setores, devemos, no mínimo, olhar com atenção para iniciativas como esta que podem contribuir para o crescimento da intolerância.

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