quinta-feira, 30 de abril de 2015

Todos pela Educação?

por JESSICA LEME

Foto: Daniel Castellano, jornal Gazeta do Povo, Curitiba PR (29/04/2015)

Tive planos de escrever hoje sobre toda a simbologia do 1° de maio, dia do trabalhador, trabalhador esse que tem sofrido duros golpes e imensas ameaças perante a possível aprovação da lei de terceirização, lhes retirando muito do que foi conquistado sabemos nós com o suor e sangue dos que lutaram durante todo o século XX por direitos básicos. 

Mas, diante do caos e vergonha estabelecidos na educação do país, mais especificamente em São Paulo e principalmente no Paraná, ficou impossível não escrever sobre os sobreviventes da educação no Brasil, os professores. Sem panfletagem barata, sem jargões aos quais não temos mais espaço nem estomago. Se nós somos “todos pela educação”, até quando deixaremos os educadores gritarem e lutarem sozinhos?

Professores em ebulição, Estado inerte. Contabilizei num primeiro momento nada mais nada menos que nove estados do país com professores em situação de greve, com indicativos de greve ou em “estado de greve”, são eles: São Paulo completando mais de 30 dias parados; Paraná o qual voltou à greve nessa última segunda feira em resposta ao não cumprimento dos acordos feitos com o governo; Santa Catarina já conta 38 dias parados; no último dia 24 de abril os professores do Piauí iniciaram sua greve; Goiás tem seus professores em greve desde o dia 14; a Bahia também teve professores municipais em greve; o Estado do Pará tem seus educadores também parados; Pernambuco entrou na greve também este mês; e para finalizar por hora o Distrito Federal iniciou greve no dia 12.

Todas essas greves não nasceram de uma pequena indignação, de uma pequena parcela de professores, de um ato falho dos governos em determinados locais do país. Essas greves, esse desejo de mudança drástica misturada com a revolta alimentada pelos anos de humilhação dos educadores do Brasil, há campanhas e mais campanhas políticas ouvindo e esperando as promessas gloriosas pronunciadas em prol da educação se desmancharem no ar. Essas greves, esse sentimento de luta e de lutar até morrer se preciso for foi plantado em nós estudantes de licenciaturas, professores, e demais servidores da educação a gerações. A educação brasileira esperava passivamente há décadas as promessas que nunca vieram a serem cumpridas.

Charge blog do RAONI http://blogdoraoni.com.br/

Há anos noticiamos a situação da escola pública, há anos sabemos que nenhum professor no Brasil recebe seu piso salarial, que a grande maioria dos profissionais tem pós-graduação ou são especialistas, mestres e mesmo assim muitos governos não reconhecem financeiramente seu valor. Usamos púlpitos, palanques, mídias sociais para reclamar nossa insatisfação com nossos resultados em exames educacionais pelo mundo. Fazemos piadas com alunos que não sabem calcular, escrever uma boa redação ou sequer sabem compreender o que leem. Tememos que nossos filhos decidam seguir carreira como professores, e enquanto professores desestimulamos alunos de licenciaturas a seguirem com a carreira. Sou professora, ouvi isso de meus professores de estágio e já fiz isso enquanto professora de estágio.

Todos os estados que possuem profissionais da educação em greve têm em suas pautas de reivindicações propostas como o pagamento do piso salarial, melhoria nas condições físicas das escolas, salas de aulas com limitação de 35 alunos (respeitando sua faixa etária), planos de carreira, tickets alimentação, vale transporte, equiparação salarial com demais servidores do estado com o mesmo nível de formação um plano de saúde.


O mais incoerente em nosso país é a parcialidade da mídia em relação ao trato dos movimentos sociais que envolvem a educação. Diante de um momento de crise nacional no setor encontramos pequenas notas, ou reportagens vagas e de curtíssima duração sobre o assunto nos telejornais. Muito menor ainda é a resposta que a sociedade civil parece dar ao movimento de educadores, que na grande maioria das vezes são colocados como insubordinados e vilões da educação pelo fato de “paralisarem” as atividades escolares.

Para tratarmos de casos mais drásticos a meu ver como no caso são dois estados de grande economia e maior número de alunos. São Paulo há anos enfrenta greves de professores que infelizmente poucas vezes trouxeram resultados efetivos a categoria. Com a política muito bem planejada de massacre à educação no estado, mesmo com um grande número de professores paralisados as escolas continuam funcionando, dando a falsa impressão de normalidade através de professores contratados por horas aulas, onde substituem os profissionais efetivos em greve. No Paraná onde a categoria nos últimos anos conseguiu a conquista mesmo que a duras penas de um plano de carreira estável, vê seu plano previdenciário ser dilacerado por uma manobra do governo para aliviar dívidas do Estado.

Na contramão de todo e qualquer discurso político e social vemos uma onda de barbáries ocorrendo para com os profissionais da educação. Na última sexta feira (24/04/2015) professores em greve em São Paulo tentaram invadir a Secretaria de Educação a fim de chamar a atenção do governo paulista que continuava mesmo após mais de 30 dias de greve negando a existência do movimento grevista. Houve confronto entre policiais e professores, estes estavam sem armas, muitos naturalmente saíram gravemente feridos.

Nesta tarde a cena volta a se repetir no estado do Paraná em pleno centro da cidade de Curitiba onde se reuniam cerca de 30 mil professores em greve lutando contra o roubo da previdência. Um contingente de 1.5 mil policiais, entre estes a tropa de choque, cavalaria e cães, iniciou o ataque aos servidores públicos assim que a votação do projeto iniciou-se no interior da Assembleia Legislativa. 

Não me cabe fazer um relatório de tudo o que ocorreu de violência nos dois casos, fato é que ambos tratam-se de profissionais da educação desde os níveis básicos até os de última instância do ensino superior. Todos estão nas ruas travando uma luta que deveria em tese ser de todos os brasileiros. Todos aqueles que usam sua camiseta da seleção para “protestar” em belos domingos de sol contra a corrupção que em seus olhos só tem um lado e uma cor. A luta pela real educação de qualidade e pelo respeito ao profissional formado e gabaritado que é a realidade da grande maioria dos professores do Brasil. Pelo respeito que também devemos aos alunos que invariavelmente deixamos desassistidos pelas péssimas condições físicas e materiais de nossas escolas públicas, e mesmo aqueles que podem pagar pelo bem estar de seus filhos em colégios particulares, estes também devem aos professores muito da formação de seus filhos enquanto cidadãos de bem.

Só me faço uma pergunta. Onde estão aqueles que bradejam contra a corrupção e se acovardam em lutar ao lado dos professores pela educação de qualidade para todos e todas?

Um comentário:

  1. Minha amiga Jessica Leme, aqueles que bradejam contra a corrupção, bradejam também, pelo o acontecido em nossa biblioteca publica de Ponta Grossa, pelos documentos antigos de nossa prefeitura, que também sumiram todos, bradejo também pelo nível horrível de nosso ensino hoje, particular ou privado. Sei que não é culpa sua.
    MAS ONDE TEM IDEOLOGIAS, cor de sangue,não dou meu palpite.
    Não sou de direita nem de esquerda.
    Sou contra: "O quanto pior melhor!"

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