quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O que está acontecendo na Síria?

por SANDRO CHAVES ROSSI



A todo momento vemos notícias sobre os refugiados sírios que estão tentando a todo custo entrar na Europa, mas o que acontece na Síria para que haja tantos refugiados de lá? Quem tem acompanhado o noticiário internacional nos últimos anos já deve ter percebido que a crise na Síria apenas se agravou desde o início da revolta contra o regime do ditador Bashar al-Assad, em 15 de março de 2011. Houve inúmeras mudanças dentro do que caracteriza o conflito, mas a maior delas foi a transformação de uma revolta de caráter popular e pacífica em uma guerra civil.

A Primavera Árabe de 2011, no Egito e na Tunísia, inspirou os sírios a tomarem as ruas, em março de 2011. Os sírios expuseram seu descontentamento com o processo político estagnado pela ditadura e pediram uma reforma política democrática. Como era de se esperar, os protestos não foram bem aceitos pelo governo ditatorial, que respondeu com medidas extremas. Inúmeros manifestantes foram sequestrados, torturados e mortos. As tropas do governo começaram a abrir fogo contra civis, foi o estopim para que uma luta armada fosse tramada.

A atual situação da Síria pode ser explicada com melhor exatidão pelo passado, precisamente 1962. Naquele ano, foram suspensas as medidas de proteção para os cidadãos do país que estavam previstas na constituição anterior. Então Hafez al-Assad, através de uma manobra ditatorial, manteve-se no poder da nação durante três décadas, que teve como sucessor o seu próprio filho Bashar al-Assad, que iniciou seu governo em 2000. As manifestações da população síria foram iniciadas em frente às embaixadas estrangeiras da capital Damasco, para chamar a atenção do cenário político internacional, e ao parlamento sírio. 

Desde março de 2011, a guerra civil síria já deixou cerca de 130 mil mortos, destruiu a infraestrutura do país e gerou uma crise humanitária regional. Somente três anos depois, as partes envolvidas e a comunidade internacional tentaram fazer estabelecer em conjunto os termos para paz. Uma segunda conferência de paz, chamada de Genebra II, foi realizada em janeiro de 2014 na Suíça. Porém, depois de mais de uma semana de negociações, os avanços foram ínfimos. Uma nova reunião começou em 10 de fevereiro do mesmo ano e teve término no dia 15, novamente sem decisões e com acusações mútuas entre governo e oposição. Uma terceira rodada será feita em data ainda não definida.

A revolta armada foi se diversificando cada vez mais, pois diversos segmentos da sociedade se mostraram insatisfeitas com o governo, com um grande destaque para a questão religiosa: Bashar al-Assad, da minoria étnico-religiosa alauíta, enfrenta há quase três anos uma rebelião armada que tenta tirá-lo do poder. Tudo isso somado com o apoio dos militares desertores do governo e por grupos islamitas como a Irmandade Muçulmana, do Egito e radicais com o grupo Al-Nursa, grupo ligado a rede terrorista Al-Qaeda.

Mesmo com muita pressão de todos os lados, Assad se recusou a renunciar, porém fez concessões para tentar acalmar os manifestantes, pelo menos os menos exaltados. Ele encerrou o estado de emergência, que durava 48 anos, fez uma nova Constituição e realizou eleições partidárias, fatos que foram considerados grandes avanços pelo cenário político internacional, mas insuficientes para a oposição, que diz não cessar até que Assad renuncie o poder.

Assad não se cala perante as acusações que sofre, ele diz que a revolta é camuflada por terroristas internacionais, cujo objetivo é criar o caos, e que está apenas se defendendo para manter a integridade nacional. A oposição alega que as acusações de Assad são mentirosas, porém desde o fim de 2013 e o início de 2014, confrontos entre rebeldes islamitas e jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL, ligado à Al-Qaeda) deixaram milhares de mortos na Síria, tais conflitos ainda se estendem até hoje - fator principal para a fuga de cada vez mais civis do país.

Existem propostas de paz para o conflito sírio desde novembro de 2011. Em março de 2012, o enviado especial da ONU, Kofi Annan foi até Moscou para assegurar apoio da Rússia, maior aliada do regime de Assad juntamente com China, Irã e também o movimento xiita libanês Hezbollah, aos esforços para promover um cessar-fogo e tentar chegar a um consenso político. Uma missão da ONU se estabeleceu em Damasco, mas, em junho, foi suspensa por conta da "violência escalante". O fracasso do cessar-fogo provocou a renúncia de Kofi Annan ao cargo e a entrada do diplomata argelino Lakhdar Brahimi em seu lugar.

Desde então, a ONU não viu outra solução que não fosse o apoio dos países do Ocidente para tentar cessar a guerra na Síria, porém quase nunca obteve uma resposta concreta vinda de nenhum país. Isso ocorre porque é muito difícil achar uma solução viável. As opções militares não ajudam: enviar armas aos rebeldes, mesmo que ajude a derrubar Assad, acabaria dando poder aos islâmicos fundamentalistas e intensificaria ainda mais a briga entre os rebeldes, o que levaria a caos generalizado e, possivelmente, uma segunda guerra civil. Uma intervenção como a promovida pelos Estados Unidos no Iraque aceleraria as mortes, custaria a vida de muitos soldados estrangeiros e exacerbaria o antiamericanismo no mundo árabe. Barack Obama, juntamente François Hollande e David Cameron, planejam uma "intervenção cirúrgica", com bombardeios em áreas militarmente estratégicas na Síria. Porém a melhor solução ainda seria um acordo entre governo e oposição sírios - o que está longe de acontecer.

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